Castor et Pollux - de Joseph Nollekens. Fonte: Instants. |
Uma
abordagem mais filosófica do signo de Gêmeos é necessária; ao menos,
conveniente. Os recortes de Rudhyar que estão abaixo podem sempre produzir
lampejos em nossa mente. O objetivo não muda: evidenciar a atmosfera e o
perfume dessa época geminiana do ciclo astrológico anual.
O símbolo zodiacal de Gêmeos – ` – é uma representação convencional de duas colunas,
ligadas em cima pelo teto e, embaixo, pelo piso do templo cujo limiar
assinalam. Este é o lugar de fazer pausa, de aceitar e de conhecer a paz que é
a única coisa capaz de assegurar, ao que busca a realidade espiritual, o
sucesso em sua busca.
Em toda parte há dualidade e polaridade. A alma jovem
e não preparada, cheia de emoção e de ansiosa curiosidade, talvez queira
precipitar-se no mistério.
O tipo de pessoa de Gêmeos é cheio de uma vívida
ânsia e curiosidade por sensação e conhecimento. Gêmeos, como o jovem estudante
que é sua representação típica, crê que pode gratuitamente ter todas as
experiências; que nada há que não possa ser conhecido, nenhuma porta secreta
cuja fechadura não possa ser forçada. Com cândido ardor ele procura ligar todos
os atos, classificar todos os dados, catalogar os deuses e as estrelas de todo
o universo, planejar aventuras a todo transe.
Uma coisa ele tem que aprender: a arte de deixar
acontecer as coisas. Precisa aprender a deter-se e a esperar. Aquele que se
esforça por alcançar o objetivo deve aprender a deixar o objetivo acontecer-lhe
– não com passiva expectativa e descuidado anelo, mas no silêncio e pausa que é
a paz. Ansiedade não é tudo; é necessário o poder decorrente da compreensão.
Isto para a pessoa que supervaloriza seus esforços tensos para ser
"consciente" a todo custo – meramente para ser consciente.
A impaciência e a ansiosa precipitação do desejo só
farão perturbar a sagrada atuação. Todas as sementes amadurecem
devagar; a sabedoria e a integração são da natureza das sementes. Devemos nos
desenvolver em sua direção, sem esforço, serenamente, com fé e com beleza.
O deus Thoth. Fonte: Amnte Nofre website. |
O homem se experimenta como homem através da
natureza. Ser homem é sagrar-se vitorioso sobre a natureza, assim cumprindo não
só sua própria finalidade como também a da natureza.
A essência dessa vitória é a transmutação da natureza
em inteligência. É a esse processo que chamamos pensamento. Pensar significa
para o homem lutar com os problemas multiformes, sempre cambiantes, que sua
experiência da natureza lhe depara a todo momento. É transformar o legado do
passado – corpo, memória, karma – num prenúncio do futuro. O pensamento emerge
em inteligência em consequência de sintetizar inteligência a partir das energias
desintegradoras da natureza.
O homem pode fracassar e ver-se presa da entropia do
universo em que vive. O pensamento, processo associativo e integrador, pode
falhar sob as pressões conflitantes e o peso de tudo quanto deve unificar numa
forma de inteligência – a grande Ideia, o símbolo redentor, a reconciliação
dinâmica dos opostos cósmicos.
A natureza e o homem são opostos, mas, por isso
mesmo, complementares. Eles se necessitam.
A inteligência é o prêmio de um glorioso jogo. Muitos
têm medo. Alguns poucos ganham imortalidade. A energia que eles condensaram e
repolarizaram em forma de Ideias criará novos mundos. Uma vez mais, no devido
tempo, eles serão chamados a represar o fluxo da energia da natureza – a
natureza destes mesmos mundos que passaram a existir como fruto de suas Ideias.
A inteligência não é limitada pelo espaço ou pela
causalidade. O pensamento opera em toda parte a um só tempo pelo Todo. Pois o
pensamento não atua como energia. Ele é a contraparte polar da energia natural
no homem.
A inteligência é em geral definida como a capacidade
de consciente adaptação às exigências do ambiente humano.
A inteligência tem sua sombra. Durante o processo de
aprisionamento e represamento da natureza, o homem pode sentir-se amedrontado
pela possibilidade de fracasso. A intelectualidade é a inteligência descendo ao
nível zero. Todos os sistemas intelectuais devem se desintegrar, e quem a eles
se apega – o intelectual – deve conhecer a morte da inteligência.
Todo homem participa da vitória de todo outro homem.
Ele também participa das derrotas, dos terrores, das petrificações de todos os
homens que deixam de alcançar a vitória.
A deterioração natural deve sempre ser polarizada
pelo pensamento integrador. Ser divino é sempre servir no renascimento perpétuo
da inteligência.
Castor and Pollux - de Nicolas Poussin. Fonte: Nicolas Poussin The Complete Works. |
No processo evolutivo pelo qual a energia solar
unitária e não diferenciada se torna gradativamente diferenciada, a primeira e
mais fundamental diferenciação se refere ao estágio de energia a que chamamos
eletricidade. Ele é simbolizado por Mercúrio, o planeta mais próximo do Sol.
A característica essencial dos fenômenos elétricos é
sua bipolaridade. A eletricidade em operação é positiva ou negativa. O domínio
da ação elétrica é o domínio da dualidade.
Mercúrio, quando considerado como o último estágio do
processo evolutivo do desenvolvimento da consciência antes que a onda de vida
retorne a sua fonte solar, é um poder de colheita – de classificação –
generalização e síntese. Ele produz símbolos (palavras, imagens, série de
ações) que nos ajudam a entender o significado "holístico" e o
proprósito de nossas experiências. Ele cria sistemas filosóficos, éticos e
lógicos. Constrói as grandes teorias da ciência de onde emerge o que os homens
veem como as "leis da Natureza".
Mercúrio também faz uso do princípio de polaridade,
entendido como o da exclusão lógica – o princípio do "ou isso ou
aquilo", do "verdadeiro ou falso" da lógica aristotélica e de
muitos de nossos modernos "testes" psicológicos. Ao nível dos
sistemas intelectuais, esse princípio constitui uma transformação do
antagonismo saturnino entre o "nós" e os "outros", entre as
pessoas que pertencem a uma tribo ou a um pequeno grupo e os estranhos a essa
comunidade, os alienígenas. Quando a "forma" é encarada como aquilo
que separa o exterior de um interior, temos o princípio da dualidade em ação.
No entanto, também pode indicar aquilo que liga o exterior ao interior, constituindo,
portanto, o limiar da comunicação.
A tarefa absolutamente importante que lhe cabe é
desenvolver a capacidade de enxergar através de todos os fatos de sua
existência, de entender-lhes o significado em termos de seu sentido, agora
muito mais ampliado de fazer parte de uma totalidade cósmica em que todas as
partes estão inter-relacionadas e são interdependentes, mas onde também cada
unidade tem seu lugar e função próprios, sua própria identidade.
Na mitologia grega Mercúrio [Hermes] era o servo de
Zeus-Júpiter, governante do céu visível e mantenedor da ordem tradicional;
vivia levando recados para seu senhor – e, de fato, a mente evolutiva mercurial
é normalmente serva da ordem estabelecida da sociedade e da cultura a que
pertence por direito inato.
Mercúrio representa discriminação. Novas experiências
em matéria de visão, audição e sensação são necessárias. É preciso haver uma
"visão" – clara, não obscurecida, perceptiva, livre de alucinações e
de formas sedutoras ou de simples disposição mental para a unidade, que muitas
vezes é erroneamente tomada por "consciência cósmica".
O mero conhecimento pode deixar o conhecedor separado
das coisas conhecidas, porque exterior a elas. O verdadeiro entendimento só é
possível através de um processo de relacionamento que, apesar de não significar
"identificação" (em sentido estrito), implica responsabilidade de
ordem espiritual. Significa uma aceitação da interconexão entre todas as formas
de existência e, por fim, relativa subserviência da parte para com o todo.
Todo indivíduo precisa encarar todas as coisas e
todos os homens, todos os amores e todas as decisões, de olhos abertos e que
gradativamente se tornem incapazes de fechar. Isso exige um vigor indômito – um
vigor e uma coragem totalmente incompreensíveis para o homem cujos olhos só
incertamente registram. Enxergar trevas totais e angústia desesperadora e
todavia reagir com entendimento e com amor, isso, realmente, significa vigor -
com o olhar centralizado, por novas experiências da realidade.
Tríptico Astrológico, D. R.
Alisson
Batista
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