sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A QUÍMICA DO SIGNO DE ESCORPIÃO II



O símbolo Inferno

Entre os gregos, Hades, o invisível – segundo uma etimologia duvidosa – é o deus dos mortos. Como ninguém ousasse pronunciar-lhe o nome, por temor de lhe excitar a cólera, ele recebeu o apodo de Plutão (o Rico), nome que implica um terrível sarcasmo, mais do que um eufemismo, para designar as riquezas subterrâneas da terra, entre as quais se encontra o império dos mortos. E esse sarcasmo torna-se macabro quando se coloca uma cornucópia entre os braços de Plutão. Na simbologia, entretanto, o subterrâneo é o local das ricas jazidas, o lugar das metamorfoses, das passagens da morte à vida, da germinação.

Após a vitória do Olimpo sobre os Titãs, foi feita a partilha do universo entre os três irmãos, Filhos de Cronos e de Reia: a Zeus coube o Céu; a Poseidon (Netuno), o Mar; a Hades, o mundo subterrâneo, os Infernos ou o Tártaro. Senhor impiedoso, tão cruel quanto Perséfona, sua sobrinha e esposa, ele não dá trégua a nenhum de seus súditos (ou vítimas). Seu nome foi dado ao lugar por ele dominado; Hades tornou-se símbolo dos Infernos. E, ainda nesse caso, as características são as mesmas por toda a parte: lugar invisível, eternamente sem saída (salvo para os que acreditavam nas reencarnações), perdido nas trevas e no frio, assombrado por monstros e demônios, que atormentam os defuntos. Já no Egito, por exemplo, no túmulo de Ramsés VI, em Tebas, os infernos eram simbolizados por cavernas, repletas de almas danadas. Mas nem todos os mortos eram vítimas de Hades.

Paul Diel interpreta o inferno na perspectiva da análise psicológica e ética: Cada função da psique é representada por uma figura personificada, e o trabalho intrapsíquico de sublimação ou de perversão encontra-se expresso pela interação desses personagens significativos. O espírito chama-se Zeus; a harmonia dos desejos, Apolo; a inspiração intuitiva, Palas Atena; o recalque, Hades; etc., o élan evolutivo (o desejo essencial) acha-se representado pelo herói; a situação conflitiva da psique humana, pelo combate contra os monstros da perversão. Dentro dessa concepção, o inferno é o estado da psique que, em sua luta, sucumbiu aos monstros, seja por ter tentado recalcá-los no inconsciente, seja porque aceitou identificar-se com eles numa perversão consciente.

Segundo a crença dos povos turcos altaicos, chega-se perto dos espíritos dos infernos quando se caminha do Oeste para o Este, ou seja, no sentido inverso ao do percurso solar, que somboliza, ao contrário, o movimento vital progressivo. Essa caminhada, em sentido oposto ao da luz, em vez de ir ao seu encontro, simboliza a regressão para as trevas.

Na tradição cristã, a conjunção luz-trevas simbolizaria os dois opostos: o céu e o inferno. Plutarco já descrevia o Tártaro como privado de sol. Se a luz se identifica com a vida e com Deus, o inferno significa a privação de Deus e da vida.

A essência íntima do inferno é o próprio pecado mortal, em que os danados morreram. É a perda da presença de Deus; e, como já nenhum outro bem poderá jamais iludir a alma do defunto, separada do corpo e das realidades sensíveis, o inferno é a desventura absoluta, a privação radical, tormento misterioso e insondável. É a derrota total, definitiva e irremediável de uma existência humana. A conversão do danado já não é mais possível; empedernido em seu pecado, ele está para sempre cravado na sua dor.

Dicionário de Símbolos, J. C. & A. G.

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