O
símbolo Inferno
Entre os gregos, Hades, o invisível – segundo uma
etimologia duvidosa – é o deus dos mortos. Como ninguém ousasse pronunciar-lhe
o nome, por temor de lhe excitar a cólera, ele recebeu o apodo de Plutão (o
Rico), nome que implica um terrível sarcasmo, mais do que um eufemismo, para
designar as riquezas subterrâneas da terra, entre as quais se encontra o
império dos mortos. E esse sarcasmo torna-se macabro quando se coloca uma
cornucópia entre os braços de Plutão. Na simbologia, entretanto, o subterrâneo
é o local das ricas jazidas, o lugar das metamorfoses, das passagens da morte à
vida, da germinação.
Após a vitória do Olimpo sobre os Titãs, foi feita a
partilha do universo entre os três irmãos, Filhos de Cronos e de Reia: a Zeus
coube o Céu; a Poseidon (Netuno), o Mar; a Hades, o mundo subterrâneo, os
Infernos ou o Tártaro. Senhor impiedoso, tão cruel quanto Perséfona, sua
sobrinha e esposa, ele não dá trégua a nenhum de seus súditos (ou vítimas). Seu
nome foi dado ao lugar por ele dominado; Hades tornou-se símbolo dos Infernos.
E, ainda nesse caso, as características são as mesmas por toda a parte: lugar
invisível, eternamente sem saída (salvo para os que acreditavam nas
reencarnações), perdido nas trevas e no frio, assombrado por monstros e
demônios, que atormentam os defuntos. Já no Egito, por exemplo, no túmulo de
Ramsés VI, em Tebas, os infernos eram simbolizados por cavernas, repletas de
almas danadas. Mas nem todos os mortos eram vítimas de Hades.
Paul Diel interpreta o inferno na perspectiva da
análise psicológica e ética: Cada função da psique é representada
por uma figura personificada, e o trabalho intrapsíquico de sublimação ou de
perversão encontra-se expresso pela interação desses personagens
significativos. O espírito chama-se Zeus; a harmonia dos desejos, Apolo; a
inspiração intuitiva, Palas Atena; o recalque, Hades; etc., o élan evolutivo (o
desejo essencial) acha-se representado pelo herói; a situação conflitiva da
psique humana, pelo combate contra os monstros da perversão. Dentro dessa concepção, o inferno é o estado da psique que, em sua
luta, sucumbiu aos monstros, seja por ter tentado recalcá-los no inconsciente,
seja porque aceitou identificar-se com eles numa perversão consciente.
Segundo a crença dos povos turcos altaicos, chega-se
perto dos espíritos dos infernos quando se caminha do Oeste para o Este, ou
seja, no sentido inverso ao do percurso solar, que somboliza, ao contrário, o movimento
vital progressivo. Essa caminhada, em sentido oposto ao da luz, em vez de ir ao
seu encontro, simboliza a regressão para as trevas.
Na tradição cristã, a conjunção luz-trevas
simbolizaria os dois opostos: o céu e o inferno. Plutarco já descrevia o
Tártaro como privado de sol. Se a luz se identifica com a vida e com Deus, o
inferno significa a privação de Deus e da vida.
A essência íntima do inferno é o próprio pecado
mortal, em que os danados morreram. É a perda da presença de Deus; e, como já
nenhum outro bem poderá jamais iludir a alma do defunto, separada do corpo e
das realidades sensíveis, o inferno é a desventura absoluta, a privação
radical, tormento misterioso e insondável. É a derrota total, definitiva e
irremediável de uma existência humana. A conversão do danado já não é mais
possível; empedernido em seu pecado, ele está para sempre cravado na sua dor.
Dicionário de Símbolos, J. C. & A. G.
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