Lua em movimento. Fonte: Encyclopaedia Britannica Blog. |
Bem, a Lua
que está lá no céu todos a conhecem. Dispensa apresentações. De qualquer jeito,
nunca é demais lembrar ou até descobrir alguns aspectos curiosos sobre esse
corpo celeste tão familiar aos seres humanos.
A Lua
Os astronautas viam a superfície poeirenta da Lua em
tons de bronze e castanho, como areia da praia, quando estavam voltados para o
Sol. Mas ela tornava-se cinzenta se a olhassem da direção oposta – e negra ao
escavarem amostras para colocar em sacos plásticos. O brilho preternatural da
luz solar nua e crua transtornou sua percepção de cor e profundidade, e também
a das chapas fotográficas.
O semblante da Lua visto da Terra, resultado da
prestidigitação da luz, não é menos ilusório. Que outra explicação pode haver
para seu fulgor prateado, se este advém de poeira e rochas negras como fuligem?
As formações umbrosas que delineiam a figura de um rosto na Lua refletem apenas
5% a 10% da luz solar que chega a elas e até os mais reluzentes planaltos
lunares não devolvem mais do que 12% a 18% da luz que recebem, o que torna
nosso satélite, no geral, tão brilhante quanto uma rua asfaltada. Mas sua
superfície áspera e rugosa, polvilhada com partículas irregulares de pó lunar,
multiplica as miríades de planos onde a luz pode bater e ricochetear. É assim
que a poeira bronze, cinza e preta veste a Lua em brilho branco. E, quando a
contemplamos contra o pano de fundo sombrio do céu noturno, ela nos parece
ainda mais branca.
É apenas durante alguns dias em cada mês que ela
desaparece verdadeiramente, invisibilizada nas cercanias do Sol. O restante do
tempo, a inelutável Lua muda de forma hora a hora, crescendo e minguando e
clamando por atenção.
O primeiro vislumbre que temos da jovem Lua é como um
sorriso ao entardecer. Embora somente um ínfimo filete crescente prateado
brilhe sobre nós no início do ciclo lunar, o restante do astro já se revela em
formas vagamente discerníveis, como se a velha Lua repousasse nos braços da
jovem Lua.
Quando a Lua percorreu um quarto da sua trajetória em
torno da Terra, a luz do Sol cobre metade de sua face. Não demorará até que a
linha que separa a parte iluminada da parte escura, chamada terminator, se
curve como um arco, alumiando uma área ainda maior da superfície lunar e
acentuando-lhe a convexidade. Essas fases da expansão lunar, que se desdobram
sucessivamente – desde a plena escuridão e as primeiras nesgas visíveis até a
Lua crescente e cheia –, são uma promessa de crescimento.
A Lua cheia, que nasce ao pôr-do-sol, promove uma ilusão de grandeza que dobra ou até triplica seu tamanho aparente. O esplendor dessa vista provém de nossa percepção mental do horizonte como um lugar remoto onde tudo que assoma como grande deve ser verdadeiramente gigantesco. Mais tarde, noite alta depois que avançou céu acima, uma outra escala de distância se aplica e a Lua retoma suas dimensões normais.
Quase todas as Luas cheias do ano mereceram ao menos
um epíteto associando-a às sazões perdidas da tradição – Lua do Lobo (janeiro),
Lua da Neve (novembro), Lua da Seiva, Lua dos Corvos, Lua das Flores, Lua das
Rosas, Lua do Trovão, Lua dos Esturjões, Lua da Colheita (setembro), Lua dos
Caçadores, Lua dos Castores, Lua Fria (dezembro).
Nada nem ninguém pode fazer com que a água dos mares
escuros da Lua se mostre, pois são todos secos. Os ditos mares nunca conheceram
a presença da água. Bone-dry, "secas como ossos", é como as amostras
lunares foram descritas, embora fossem bem mais secas do que ossos. Secas como
pó, então? Não, ainda mais secas. As pedras lunares estabeleceram um novo
padrão de secura, caracterizado pela total ausência de água. Nem uma gotícula
de água, nem uma bolha de vapor esconde-se furtivamente na treliça de cristais
das rochas lunares. Na ausência de água como um ingrediente possível, a
criatividade da Lua limitou-se a uma mera centena de minerais, enquanto a úmida
Terra engendrou milhares e milhares de variedades de minerais.
Árida, a Lua atrai os mares da Terra como se os
invejasse. Duas vezes ao dia, a maré sobe e desce sob comando da gravidade
lunar. Todos os corpos de água do nosso planeta se elevam quando passam sob a
Lua, o que faz sentido intuitivo, mas então se elevam novamente depois de
circularem até o outro lado, oposto a onde a Lua se encontra.
As marés terrestres reagem à gravidade solar, como à
lunar. Porém, quando o Sol e a Lua se enfileiram com a Terra numa linha reta
que cruza os céus, como acontece em todo novilúnio e plenilúnio, os três astros
conspiram para elevar as marés ainda mais. Se tal alinhamento, ou sizígia,
ocorrer no momento em que a Lua estiver mais próxima da Terra, isto é, no
perigeu, tanto mais alto subirão as marés.
Enquanto a Lua puxa e empuxa os oceanos terrestres, a
Terra arrasta a Lua para si com a força superior de sua massa maior. A luta
inquieta pelo poder entre os dois corpos acabou reduzindo a rotação do nosso
satélite para cerca de quinze quilômetros por hora. Girando assim devagar, a
Lua demora quase tanto tempo para girar em torno de seu eixo quanto para
completar sua órbita mensal de cerca de 2,5 milhões de quilômetros. É como se a
Terra a houvesse coagido a um padrão cerrado de rotação e revolução (ao qual se
dá o nome de earthlock), que faz com que ela sempre mantenha a mesma face
respeitosa voltada para nós.
A rotação diária da Terra em torno de seu eixo e a
sua revolução anual em torno do Sol recusam-se a se engrenar com a órbita
mensal da Lua. Combinar as idiossincrasias temporais solares e lunares sempre
exigiu fórmulas complexas para alternar entre anos de doze e de treze meses (o
que desde sempre conferiu ao número treze uma aura de azar) ou para legislar a
duração dos meses em si.
Na Lua, um único intervalo de tempo – o nosso mês
lunar – serve igualmente para o dia e para o ano. No decorrer desse ano diário
ou dia anual, em que ela completa um giro em torno de seu eixo e um giro em
torno da Terra, a luz e o calor do Sol espalham-se primeiro sobre um de seus
hemisférios e depois sobre o outro, concedendo a cada um cerca de duas semanas
contínuas de luz natural, seguidas de uma gélida quinzena de noite
ininterrupta.
Toda fermentação geológica na Lua cessou há cerca de
3 bilhões de anos, depois que o intenso bombardeio tardio livrou o Sistema
Solar dos maiores e mais ameaçadores projéteis. Hoje, meteoritos de uma
tonelada não atingem a Lua mais de uma vez a cada três anos, em média. Os
abalos sísmicos ocasionais podem ser considerados, sem medo de errar, como uma
reação débil ao estresse gravitacional, não como palpitações de um planeta vivo
com um núcleo líquido.
Apenas micrometeoritos continuam a cair
constantemente sobre a Lua inerte, tornando o manto de poeira em sua superfície
cerca de um milionésimo de milímetro mais espesso a cada ano. Esse influxo é a
principal força tectônica que hoje atua na Lua. Os selenologistas chamam isso
de "manter o jardim", pois esses recém-chegados reviram e revolvem o
"solo" estéril do astro ao se inserirem nele, onde a pegada de uma
bota tem expectativa de vida de 1 milhão de anos e cada partícula de pó possui
um quê de imortalidade.
Os Planetas, D. S.
Alisson
Batista
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