A constelação de Virgem. Fonte: Mexican Skies. |
Segue a série
de resumos e fragmentos de mitos, símbolos, imagens e palavras, todos com o
intuito de promover a atmosfera ou o perfume de cada uma das doze estações que
completam o ciclo zodiacal.
Está na vez
do signo de Virgem, que encerra a sua participação em 22 de setembro, na
próxima segunda-feira.
Seguindo o
rito, em primeiro lugar, veremos algo sobre o que o signo de Virgem
simboliza, algo sobre a virgindade e as
Virgens, mas também algo sobre o símbolo da espiga – associado ao signo de
Virgem.
Mais
adiante, falaremos sobre as figuras femininas associadas ao signo – Deméter,
Ceres e Ísis; e sobre a cor azul da Virgem. O planeta Mercúrio voltará do signo
de Gêmeos para reger também o signo de Virgem e, por fim, uma abordagem mais
filosófica sobre o período solar que já está por terminar.
Mais
uma vez, espero que gostem.
Virgem como um símbolo
Sexto signo do Zodíaco que se situa antes do
equinócio de outono. Símbolo de colheita, de trabalho, de destreza manual, de
minúcia; é o segundo signo de Mercúrio que, neste caso, atua de um modo mais baixo, mais terrestre e prático do que no signo de
Gêmeos, que corresponde ao aspecto aéreo do mensageiro dos deuses.
Com Virgem, estamos no final do ciclo anual do
elemento Terra; antes da terra fria de Capricórnio, a das semeaduras de
inverno; depois da terra rica, úmida e quente de Touro, coberta da vegetação
verde e perfumada da primavera. Aqui, apresenta-se uma terra ressecada pelo sol
estival, de virtudes nutritivas esgotadas, sobre a qual a espiga ceifada espera
que o grão se solte do seu invólucro.
O ciclo vegetal se completa numa nova terra, virgem,
destinada a receber a semente mais tarde. Daí vem a representação do signo por
uma jovem, virgem alada que segura uma espiga ou um molho de trigo. Mercúrio é
o planeta que a rege: na época da colheita e do enceleiramento, em que o
resultado é pesado e calculado, estamos, de fato, num mundo que se diferencia,
se particulariza, se seleciona, se restringe, se reduz, se despoja, determina
para si limites precisos.
Trata-se de uma disposição geral de reter, controlar,
dominar-se, disciplinar-se; de uma tendência à economia, à parcimônia, ao
acúmulo, à conservação, à temporização; de um caráter sério, consciencioso,
escrupuloso, reservado, cético, metódico, ordenado, ligado aos princípios, às
regras, às recomendações, sóbrio, cioso do senso cívico e da respeitabilidade,
trabalhador, voltado para as coisas difíceis, laboriosas, ingratas ou penosas,
visando sobretudo a satisfazer um sentimento de segurança...
No Egito, era o signo de Ísis. Tem relação com o fogo
e a água, simultaneamente, e simboliza a consciência emergindo da confusão,
assim como o nascimento de espírito.
A
virgindade e as virgens
O símbolo da Virgem, Mãe divina enquanto Theotokos, designa a alma na qual Deus recebe-se a si
mesmo, gerando-se em si mesmo, pois só ele é.
A Virgem Maria representa a alma perfeitamente
unificada, na qual Deus tornou-se fecundo. Ela continua virgem, pois continua
intacta em relação a uma nova fecundidade.
A criança divina nasce sem intervenção do homem no
mistério cristão que justamente neste aspecto coincide com os mitos da
Antiguidade, que representam o nascimento milagroso do herói.
A Virgem Mãe de Deus simboliza a terra orientada para
o céu, que se torna também uma terra transfigurada, uma terra de luz. Daí vêm o
seu papel e a sua importância no pensamento cristão, enquanto modelo e ponte
entre o terrestre e o celeste, o baixo e o alto.
As virgens negras simbolizam a terra virgem, ainda
não fecundada; valorizam o elemento passivo do estado virginal.
Fertilidade do solo. Fonte: Centro de Produções Técnicas (CPT). |
O trigo...
Certa cerimônia dos mistérios de Elêusis coloca em
perfeito relevo o simbolismo essencial do trigo. No decurso de um drama
místico, comemorativo da união de Deméter (Ceres) e Zeus (Júpiter), era
apresentado um grão de trigo, como uma hóstia no ostensório, que se contemplava
em silêncio. Era a cena da epopsia, ou da
contemplação.
Através desse grão de trigo, os epoptas prestavam
honras a Deméter, a deusa da fecundidade e iniciadora aos mistérios da vida.
Essa ostensão muda evocava a perenidade das estações, o retorno das colheitas,
a alternância da morte do grão e de sua ressurreição em múltiplos grãos. O
culto da deusa era a garantia dessa permanência cíclica.
Por evocar a morte e o renascimento do grão, a
emocionante cerimônia foi relacionada com a evocação do Deus morto e
ressuscitado, característica dos cultos ao mistério de Dioniso, mas essa
interpretação seria apenas uma derivação da primeira.
O profundo simbolismo do grão de trigo talvez se
enraíze também em um outro fato assinalado por Jean Servier. A origem do trigo
é completamente desconhecida, como a de muitas plantas de cultivo, em especial
a cevada, o feijão e o milho. Pode-se multiplicar as espécies, enxertar
algumas, melhorar a qualidade de outras – mas nunca se conseguiu criar trigo ou
milho, ou qualquer dessas plantas alimentícias básicas. Elas surgem, portanto,
essencialmente e em diferentes civilizações, como um presente dos deuses,
ligado ao dom da vida.
O trigo simboliza o dom da vida, que não pode ser
senão um dom dos deuses, o alimento essencial e primordial.
... e as
espigas
Nas civilizações agrárias, a espiga é o filho nascido
da hierogamia fundamental Céu-Terra. É a resolução dessa dualidade fundamental;
e é por esse motivo que, em sua qualidade de síntese, a espiga de milho ostenta
simultaneamente a cor feminina da terra vermelha e a cor máscula do céu azul: “A espiga de
milho feminina é coberta pela abóbada azul do céu masculino”.
Para os índios da pradaria, “a espiga de
milho representa o poder sobrenatural que habita H´Uraru, a terra de onde
provém o alimento necessário à vida; e é por isso que nós lhe damos o nome de
Atira, a mãe que insufla a vida. O poder inerente à terra, e que a torna capaz
de produzir, vem do alto, e é por isso que nós pintamos de azul a espiga do
milho”.
Fez-se da espiga de milho o atributo do verão,
estação das colheitas de cereais; de Ceres, a deusa da agricultura, que deu o
trigo aos homens e que é geralmente representada com um punhado de espigas nas
mãos; da Caridade e da Abundância, que distribuem espigas em profusão e todos
os alimentos que as espigas simbolizam. A espiga contém o grão que morre, seja
para nutrir ou seja para germinar.
Em geral símbolo do crescimento e da fertilidade;
alimento e sêmen ao mesmo tempo. Indica a chegada à maturidade, tanto na vida
vegetal e animal quanto no desenvolvimento psíquico: é o desabrochar de todas
as possibilidades do ser, a imagem da ejaculação.
Dicionário de
Símbolos, C. & G.
Alisson Batista
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