O homem precisa agir: viver é agir. Todas as ações
implicam um movimento a partir de uma base relativamente estável ou de um
estado de equilíbrio, de um centro. O movimento requer emprego de energia.
Para liberar poder é preciso haver algo através do
qual posssa ocorrer essa liberação: um sistema ou mecanismo de liberação – um
agente, um motor. O agente, na esfera humana, aparece com o caráter de
identidade individual; ele se torna um agente responsável, um agente livre.
Quando se dá a liberação de poder através de um instrumento feito pela mão do
homem, falamos de “motor” ou “máquina”.
O Sol é um agente natural por cujo intermédio é
liberado poder. Também o é a célula, a semente, a planta, o pássaro, no nível
desse tipo de liberação a que chamamos “vida”. No homem, testemunhamos o
aparecimento não só de percepção consciente, como também de clara motivação,
intencionalidade e o emprego de suas várias energias por meio da inibição e da
liberação do poder da vontade, serva de seu ego consciente individualizado. A
consciência, nele, dirige a liberação do poder – ao menos de alguns aspectos do
poder de que o homem é agente liberador.
Consciência – Poder: o grande, o trágico dualismo
humano. Como unidade de consciente identidade, ele pode transformar os
instrumentos naturais por cujo meio o poder humano emana: seus órgãos. Ele pode
aumentar, ou diminuir, a eficácia de seu corpo e de sua psique. Pode
estender-lhes a capacidade de liberação de poder por meio de máquinas, ou
atrair sobre eles enfermidade e deterioração. Pode ter pensamentos individuais,
transformar a natureza por meio deles, ou entortar Ideias universais, parir
monstros mentais para canalizar o dinamismo perverso de seu ego rebelde ou
malsão.
Compete-lhe escolher, na medida em que é um ser
consciente. Como um ser, ele estampa a liberação de suas energias com seu
próprio e inerente caráter e qualidade de ser. Ele representa aquilo que ele é.
Ele age com “pureza” – ou em “pecado”.
Ser puro é ser um agente por meio do qual o poder é
liberado de acordo com o caráter e ritmo intrínsecos desse poder e em resposta
à necessidade humana que reclamou tal liberação de poder, e para nenhum outro
fim e de nenhum outro modo. É usar os instrumentos naturais para a liberação de
poder, de acordo com a natureza intrínseca desses instrumentos e de sua
adequação dentro da ordem universal da evolução. É agir em termos de
necessidade inerente.
A pureza na ação é adequação ao caráter do poder
liberado. Pode haver pureza em atos destrutivos tanto quanto em atos
construtivos. Agentes catabólicos podem ser tão puros como os anabólicos. O
veneno pode ser tão puramente venenoso como a clara água, sem a mistura de
nenhum elemento estranho à sua natureza molecular (H2O), pura em sua
limpidez e ação diluente.
Uma personalidade humana é pura se libera sua parte
de poder latente na humanidade como um
todo sem desperdício emocional de energia ou confusão mental. Tal homem é o que
intrinsecamente ele é, e nada senão isso, como uma entidade individual. É, portanto,
um claro agente de liberação do poder humano.
Moedas de ouro. Fonte: Blog.bg. |
Todavia, a pureza numa pessoa individual implica mais
que adequação à função e perfeita harmonia com o ritmo do poder empregado. Do
homem se espera que assuma seu lugar consciente e significativamente dentro da
grande representação da evolução universal.
Verdade, identidade espiritual, dharma: várias palavras para definir a identidade
imortal em atos eficazes e adequados. Tudo que é necessário; nada que não seja
necessário. Na pureza e na verdade, a liberdade e a necessidade se tornam
idênticas.
O indivíduo é espiritualmente livre quando cumpre a
sua finalidade essencial, e de nenhum outro modo. Ele é concretamente livre
quando a sociedade lhe permite, e sua própria vontade lhe determina, realizar
aqueles atos que são inerentes ao caráter e ao ritmo do poder para cuja
liberação ele foi criado e constituído agente.
Esse propósito está latente no próprio caráter dos
poderes que estão pressionando por expressão dentro da própria natureza do
indivíduo. Quando ele entende, com verdade, o caráter de seus poderes,
compreende, ao mesmo tempo, também a natureza do propósito essencial de sua
vida – a razão para a qual deve ser livre – a não ser que na excitação
concomitante ao uso dos poderes (e esta é a grande prova!) o indivíduo se
identifique com o fascínio variável, primeiro deste poder, depois de outro; tornando-se
assim uma triste caixa de ressonância para os confusos fluxos e refluxos de
toda e qualquer energia que as circunstâncias lhe despertem no corpo e na
psique.
O homem é, a um só tempo, planta e animal. Mas o
homem é mais que isso. Ele é potencialmente um planeta, estabelecido no centro,
seguro em sua identidade cósmica – um planeta afinado com outros planetas numa
“série harmônica” de liberações de poder, cujo “tom fundamental” é o Sol. Cada
planeta é um agente para a liberação de um gênero de poder.
Ser puro é ser um agente do poder solar. Ser
verdadeiro é ser um agente da energia diferenciadora do eu. A pureza
correlaciona-se com o poder; a verdade, com a consciência do eu. Na harmonia
ciclicamente alterada de poder e identidade consciente, o homem, cuja vida é uma constante representação dramática de seu destino intrínseco, movimenta-se
como um planeta.
A consciência resulta da ação, segue-se à ação; e a
consciência é afetada pelos fluxos e refluxos do poder, pela inclinação
variável dos raios do Sol nas várias épocas do ano, pelo ritmo lunar das substâncias
líquidas (mar, seiva, sangue), pela magia dos desejos instáveis que pulsam ao
sabor das estações. Sua vida pode ser pura se exprimir a natureza do poder e os
poderes da natureza.
O homem que o é em verdade, porque está estabelecido
no centro do conúbio entre poder e identidade e na liberdade da gravitação
terrestre, é impelido por uma necessidade inerente a ser conscientemente o que
ele é, a ir avante, para sempre, como definidor de espaço, como quem descreve
uma órbita, como filho do poder e da consciência, do amor e da inteligência. O
homem perde sua pureza. Ou atinge o centro – e a paz. Nessa paz ele conhece a
verdade, a sua verdade. Para, conscientemente, conhecer essa verdade ele teve
de perder a pureza e readquiri-la no contexto cósmico do espaço orbital.
Tríptico Astrológico, D. R.
Alisson
Batista
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