A Constelação de Escorpião. Fonte: Mexican Skies. |
O signo de
Escorpião nos deixa neste sábado, dia 22 de novembro. E, claro, para mim e para
algumas pessoas próximas, deixou um rastro de morte.
Bem, é com
esse material que se produz a vida. Portanto, daremos sequência à série de
resumos e fragmentos de mitos, símbolos, imagens e palavras, todos com o mesmo intuito
de sugerir a atmosfera de cada uma das doze estações que completam o ciclo zodiacal.
O cerimonial
passará, em primeiro lugar, pelo símbolo Escorpião e pelo símbolo do Inferno,
sendo esse último totalmente identificado com o primeiro. Depois, veremos algo
sobre a cor Violeta e sobre a Temperança, virtude ligada a essa cor.
Para não
perder o hábito, veremos o símbolo Plutão, além dos mitos de Hades e Órion. E
mais adiante, traremos informações sobre o planeta (ops, planeta?) Plutão. Sim,
enquanto os astrônomos não se decidem, a tradição astrológica segue impassível
com seu indicador planeta Plutão.
E no fim a
parte mais filosófica – com textos de Dane Rudhyar – fica dividida em três
postagens bem interessantes sobre essa estação tão invisível, rica e obscura nos
mapas e na vida das pessoas.
Mais
uma vez, espero que gostem.
Escorpião
como símbolo
Muitos africanos evitam pronunciar-lhe o nome, pois
ele é maléfico: chamá-lo pelo nome equivaleria a desencadear forças contra si
mesmo. Ele só é designado através de alusões como a hiena, frequentemente
apelidada de a combalida.
Segundo uma lenda do Mali, o escorpião diz: Não sou
um espírito dos elementos e tampouco um demônio. Sou o animal fatal àquele que
o tocar. Tenho dois cornos e uma cauda que torço no ar. Os meus cornos
chamam-se, um, a violência, o outro, o ódio. O estilete da minha cauda chama-se
buril de vingança. Só ponho no mundo uma vez: a concepção que, para os outros, é
sinal de crescimento, para mim é sinal de morte próxima.
Como animal noturno, por causa de sua cauda cuja
ponta é um tumor cheio de veneno que alimenta um ferrão sempre retesado e
pronto para picar fatalmente aquele que o tocar, ele encarna o espírito
belicoso, mal-humorado, sempre escondido e rápido em matar; como animal diurno,
simboliza a abnegação e o sacrifício maternos, pois, segundo a lenda, antes de
nascerem, seus filhotes escavam-lhe os flancos e comem-lhe as entranhas.
O escorpião é o Deus da caça, para os maias. Na
glíptica maia, é utilizado como símbolo de penitência e de sangria. Para os
dogons, ele é igualmente associado às operações cirúrgicas: com efeito, ele
representa o clitóris excisado. A bolsa e o ferrão simbolizam o órgão, e o
veneno, a água e o sangue da dor. Nesse sentido, ele representa a segunda alma
(a alma masculina) da mulher. Mas, por outro lado, tendo oito patas, o
escorpião é o protetor dos gêmeos, que totalizam oito membros: ninguém os
tocará sem expor-se à sua picada. Essas duas acepções simbólicas do escorpião
não são contraditórias, mas complementares pois, como especifica Griaule, o
nascimento de gêmeos é um evento considerável. Repete o parto da primeira
mulher e a transformação do seu clitóris em escorpião (que só se dava após o
parto).
Sol em Escorpião, de Carlos P. Naval. Fonte: BBC Brasil. |
Na tradição grega, o escorpião é o vingador de
Ártemis – Diana, para os romanos –, a virgem caçadora, eternamente jovem, um
tipo de jovem arisca. Ofendida por Orião, que tentou violentá-la, a deusa fez
com que este fosse picado no calcanhar por um escorpião. Por esse favor, o
escorpião foi transformado em constelação; Orião também foi enviado ao céu e
transformado em constelação. Em consequência, diz-se que Orião foge
constantemente do escorpião. O escorpião aparece aqui como o intrumento da
justiça vingativa.
Em astrologia, o Escorpião é o oitavo signo do
Zodíaco, ocupando o meio do trimestre do outono no hemisfério setentrional,
quando o vento arranca as folhas amareladas e os animais e as árvores
preparam-se para uma nova existência. Símbolo ao mesmo tempo de resistência, de
fermentação e morte, de dinamismo, de dureza e de lutas, esta parte do céu tem
Marte como regente planetário.
O Escorpião evoca a natureza na época do Dia de Todos
os Santos, da queda das folhas, da morte da vegetação, do retorno da matéria
bruta ao caos, enquanto o húmus prepara o renascimento da vida; o quaternário
aquático entre a água primeira da fonte (Câncer) e as águas devolvidas do
Oceano (Peixes), ou seja, as águas profundas e silenciosas da estagnação e da
maceração. O animal negro, que foge da luz, vive escondido e é dotado de um
ferrão envenenado. Essa reunião compõe um mundo de valores sombrios, próprios
para evocar os tormentos e os dramas da vida até o abismo do absurdo, do nada,
da morte... Daí o fato de o signo ser colocado sob a regência de Marte, assim
como de Plutão, força misteriosa e inexorável das sombras, do inferno, das
trevas interiores. Estamos no centro do complexo sadoanal do freudianismo; mas,
aos valores psíquicos do ânus vêm-se unir os do sexo, e vemos estabelecer-se
uma dialética de destruição e de criação, de morte e de renascimento, de
condenação e de redenção, com o Escorpião como um canto de amor num campo de
batalha ou um grito de guerra num campo de amor... Em tal território rubro e
negro, o indivíduo enraíza-se nas convulsões dos seus obstáculos e só se
transforma em si mesmo quando sacudido do transe selvagem de um demônio
interior que tem sede, não de bem-estar, mas de mais-ser, até o gosto amargo da
angústia de viver, entre o apelo de Deus e a tentação do diabo. Esta natureza
vulcânica faz do tipo de Escorpião um pássaro cujas asas só se abrem facilmente
no meio das tempestades, pois o seu clima é o das tormentas, e é da tragédia o
seu território.
Dicionário de Símbolos, J. C. & A. G.
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