sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A QUÍMICA DO SIGNO DE ESCORPIÃO


A Constelação de Escorpião. Fonte: Mexican Skies.


O signo de Escorpião nos deixa neste sábado, dia 22 de novembro. E, claro, para mim e para algumas pessoas próximas, deixou um rastro de morte.

Bem, é com esse material que se produz a vida. Portanto, daremos sequência à série de resumos e fragmentos de mitos, símbolos, imagens e palavras, todos com o mesmo intuito de sugerir a atmosfera de cada uma das doze estações que completam o ciclo zodiacal.

O cerimonial passará, em primeiro lugar, pelo símbolo Escorpião e pelo símbolo do Inferno, sendo esse último totalmente identificado com o primeiro. Depois, veremos algo sobre a cor Violeta e sobre a Temperança, virtude ligada a essa cor.

Para não perder o hábito, veremos o símbolo Plutão, além dos mitos de Hades e Órion. E mais adiante, traremos informações sobre o planeta (ops, planeta?) Plutão. Sim, enquanto os astrônomos não se decidem, a tradição astrológica segue impassível com seu indicador planeta Plutão.

E no fim a parte mais filosófica – com textos de Dane Rudhyar – fica dividida em três postagens bem interessantes sobre essa estação tão invisível, rica e obscura nos mapas e na vida das pessoas.

Mais uma vez, espero que gostem.



Escorpião como símbolo

Muitos africanos evitam pronunciar-lhe o nome, pois ele é maléfico: chamá-lo pelo nome equivaleria a desencadear forças contra si mesmo. Ele só é designado através de alusões como a hiena, frequentemente apelidada de a combalida.

Segundo uma lenda do Mali, o escorpião diz: Não sou um espírito dos elementos e tampouco um demônio. Sou o animal fatal àquele que o tocar. Tenho dois cornos e uma cauda que torço no ar. Os meus cornos chamam-se, um, a violência, o outro, o ódio. O estilete da minha cauda chama-se buril de vingança. Só ponho no mundo uma vez: a concepção que, para os outros, é sinal de crescimento, para mim é sinal de morte próxima.

Como animal noturno, por causa de sua cauda cuja ponta é um tumor cheio de veneno que alimenta um ferrão sempre retesado e pronto para picar fatalmente aquele que o tocar, ele encarna o espírito belicoso, mal-humorado, sempre escondido e rápido em matar; como animal diurno, simboliza a abnegação e o sacrifício maternos, pois, segundo a lenda, antes de nascerem, seus filhotes escavam-lhe os flancos e comem-lhe as entranhas.

O escorpião é o Deus da caça, para os maias. Na glíptica maia, é utilizado como símbolo de penitência e de sangria. Para os dogons, ele é igualmente associado às operações cirúrgicas: com efeito, ele representa o clitóris excisado. A bolsa e o ferrão simbolizam o órgão, e o veneno, a água e o sangue da dor. Nesse sentido, ele representa a segunda alma (a alma masculina) da mulher. Mas, por outro lado, tendo oito patas, o escorpião é o protetor dos gêmeos, que totalizam oito membros: ninguém os tocará sem expor-se à sua picada. Essas duas acepções simbólicas do escorpião não são contraditórias, mas complementares pois, como especifica Griaule, o nascimento de gêmeos é um evento considerável. Repete o parto da primeira mulher e a transformação do seu clitóris em escorpião (que só se dava após o parto).

Sol em Escorpião, de Carlos P. Naval. Fonte: BBC Brasil.

Na tradição grega, o escorpião é o vingador de Ártemis – Diana, para os romanos –, a virgem caçadora, eternamente jovem, um tipo de jovem arisca. Ofendida por Orião, que tentou violentá-la, a deusa fez com que este fosse picado no calcanhar por um escorpião. Por esse favor, o escorpião foi transformado em constelação; Orião também foi enviado ao céu e transformado em constelação. Em consequência, diz-se que Orião foge constantemente do escorpião. O escorpião aparece aqui como o intrumento da justiça vingativa.

Em astrologia, o Escorpião é o oitavo signo do Zodíaco, ocupando o meio do trimestre do outono no hemisfério setentrional, quando o vento arranca as folhas amareladas e os animais e as árvores preparam-se para uma nova existência. Símbolo ao mesmo tempo de resistência, de fermentação e morte, de dinamismo, de dureza e de lutas, esta parte do céu tem Marte como regente planetário.

O Escorpião evoca a natureza na época do Dia de Todos os Santos, da queda das folhas, da morte da vegetação, do retorno da matéria bruta ao caos, enquanto o húmus prepara o renascimento da vida; o quaternário aquático entre a água primeira da fonte (Câncer) e as águas devolvidas do Oceano (Peixes), ou seja, as águas profundas e silenciosas da estagnação e da maceração. O animal negro, que foge da luz, vive escondido e é dotado de um ferrão envenenado. Essa reunião compõe um mundo de valores sombrios, próprios para evocar os tormentos e os dramas da vida até o abismo do absurdo, do nada, da morte... Daí o fato de o signo ser colocado sob a regência de Marte, assim como de Plutão, força misteriosa e inexorável das sombras, do inferno, das trevas interiores. Estamos no centro do complexo sadoanal do freudianismo; mas, aos valores psíquicos do ânus vêm-se unir os do sexo, e vemos estabelecer-se uma dialética de destruição e de criação, de morte e de renascimento, de condenação e de redenção, com o Escorpião como um canto de amor num campo de batalha ou um grito de guerra num campo de amor... Em tal território rubro e negro, o indivíduo enraíza-se nas convulsões dos seus obstáculos e só se transforma em si mesmo quando sacudido do transe selvagem de um demônio interior que tem sede, não de bem-estar, mas de mais-ser, até o gosto amargo da angústia de viver, entre o apelo de Deus e a tentação do diabo. Esta natureza vulcânica faz do tipo de Escorpião um pássaro cujas asas só se abrem facilmente no meio das tempestades, pois o seu clima é o das tormentas, e é da tragédia o seu território.

Dicionário de Símbolos, J. C. & A. G.

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