sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A QUÍMICA DO SIGNO DE ESCORPIÃO III


Vulcão Krakatau (Krakatoa). Fonte: Blog Krakatau Vulcano.

O símbolo Violeta

Cor da temperança, feita de uma proporção igual de vermelho e de azul, de lucidez e de ação refletida, de equilíbrio entre a terra e o céu, os sentidos e o espírito, a paixão e a inteligência, o amor e a sabedoria. O violeta é o resultado dessa troca perpétua entre o vermelho ctoniano da força impulsiva e o azul-celeste.

Observemos que a alquimia e, de um modo mais geral, a doutrina hermética se baseiam no esquema da troca perpétua entre o céu e a terra através do mecanismo da evolução – ou ascensão – seguido da involução – ou descida. Em outras palavras, é o ciclo da renovação periódica, sendo a morte e a sublimação seguidas do renascimento ou da reencarnação.

Aprofundando essa interpretação, o violeta, no horizonte do círculo vital, situa-se do lado oposto ao verde: ele significaria, não a passagem primaveril da morte à vida, i.e., a evolução, mas a passagem outonal da vida à morte, a involução. Seria, portanto, de certa forma, a outra face do verde e como ele estaria ligado ao simbolismo da goela, sendo o violeta a goela que engole e apaga a luz, enquanto o verde é a goela que rejeita e reacende a luz. Assim, é compreensível que o violeta seja a cor do segredo: atrás dela realizar-se-á o invisível mistério da reencarnação ou, ao menos, da transformação.

Eis por que nos monumentos simbólicos da Idade Média, Jesus Cristo veste uma túnica violeta durante a paixão, ou seja, quando ele assume completamente a sua encarnação, e que, no momento de realizar o seu sacrifício, esposa em si mesmo inteiramente o Homem, filho da terra, que irá redimir, com o Espírito celeste, imperecível, ao qual retornará. É este mesmo simbolismo que cobre o coro das igrejas de violeta às Sextas-Feiras Santas. Pela mesma razão, inúmeros evangeliários, livros de salmos e breviários, anteriores ao Renascimento, são escritos com letras douradas sobre um pergaminho violeta: o leitor tinha continuamente sob os olhos a revelação, representada pelo ouro, e a paixão de Nosso Senhor, representada pela cor violeta.

Uma consequência tardia deste simbolismo mortuário fez do violeta a cor do luto ou do semiluto em nossas sociedades ocidentais – o que evoca ainda mais precisamente a ideia, não da morte enquanto estado, mas da morte enquanto passagem.

F. Portal observa, por fim, segundo Winkelman, que o manto de Apolo era azul ou violeta, o que se reveste de especial importância se pensarmos no parentesco dessa figura com a de Cristo nas mitologias solares tardias. Mas o violeta é também cor de obediência, de submissão, o que não vem contradizer a sua associação com a paixão de Cristo. Wallis Budge registra o costume de prender ao pescoço das crianças uma pedra violeta não só para protegê-las da doença, mas para torná-las dóceis e obedientes.

O violeta é também uma cor de tranquilidade na qual o ardor do vermelho é suavizado. É nesta acepção que se deve compreender também a roupa violeta do bispo. À diferença do místico, este, encarregado de velar sobre o seu rebanho, tem de temperar o ardor de suas paixões: daí a cor de sua roupa. O Extremo Oriente interpreta com um sentido totalmente diferente, puramente carnal. Os coitos rituais entre yogi, nos ritos tântricos, se realizam num quarto iluminado por uma luz violácea, porque a luz violeta estimula as glândulas sexuais da mulher, enquanto o vermelho ativa as do homem.

Fonte: Picphotos.

A Temperança

A temperança significa o domínio do desejo, a moderação, a medida: esta moderação que, cromaticamente, produz a cor violeta. Feita da combinação do vermelho com o azul, cores que predominam na carta do Tarô, é também a junção do ativo e do passivo, simbolizando o mistério da criação, invisível, secreto.

É a entrada do espírito na matéria, o símbolo de todas as transfusões espirituais. O gênio alado realiza e encarna sobre o plano material as obras da Justiça, mas não cria nada por si mesmo.

A Temperança contenta-se em passar, de um recipiente para outro, um líquido ondulante que permanece inalterado, sem que jamais se perca uma gota sequer. Somente o vaso muda de forma e de cor. Não seria, como o havíamos percebido a respeito da serpente, o símbolo do dogma da Reencarnação ou da transmigração das almas? Basta lembrarmos que em grego clássico o ato de derramar de um vaso em outro é tomado como sinônimo de metempsicose.

Assim, entre a Morte e o Diabo, a temperança alada nos faz lembrar a grande lei da eterna circulação dos fluidos vitais, no plano cósmico, e, no plano psicológico, a necessidade do difícil equilíbrio interior que devemos manter entre os dois pólos do nosso ser, feito pela metade vermelho e azul, de terra e céu. Se o líquido que passa de um vaso a outro apresenta ondulações que não têm relação alguma com as leis físicas, é porque a serpente é aí, uma vez mais, o símbolo da passagem indefinidamente recomeçada de um mundo a outro.

Dicionário de Símbolos, J. C. & A. G.

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