Vulcão Krakatau (Krakatoa). Fonte: Blog Krakatau Vulcano. |
O
símbolo Violeta
Cor da temperança, feita de uma proporção igual de
vermelho e de azul, de lucidez e de ação refletida, de equilíbrio entre a terra
e o céu, os sentidos e o espírito, a paixão e a inteligência, o amor e a
sabedoria. O violeta é o resultado dessa troca perpétua entre o vermelho
ctoniano da força impulsiva e o azul-celeste.
Observemos que a alquimia e, de um modo mais geral, a
doutrina hermética se baseiam no esquema da troca perpétua entre o céu e a
terra através do mecanismo da evolução – ou ascensão – seguido da involução –
ou descida. Em outras palavras, é o ciclo da renovação periódica, sendo a morte
e a sublimação seguidas do renascimento ou da reencarnação.
Aprofundando essa interpretação, o violeta, no
horizonte do círculo vital, situa-se do lado oposto ao verde: ele significaria,
não a passagem primaveril da morte à vida, i.e., a evolução, mas a passagem
outonal da vida à morte, a involução. Seria, portanto, de certa forma, a outra
face do verde e como ele estaria ligado ao simbolismo da goela, sendo o violeta
a goela que engole e apaga a luz, enquanto o verde é a goela que rejeita e
reacende a luz. Assim, é compreensível que o violeta seja a cor do
segredo: atrás dela realizar-se-á o
invisível mistério da reencarnação ou, ao menos, da transformação.
Eis por que nos monumentos simbólicos da Idade Média,
Jesus Cristo veste uma túnica violeta durante a paixão, ou seja, quando ele
assume completamente a sua encarnação, e que, no momento de realizar o seu
sacrifício, esposa em si mesmo inteiramente o Homem, filho da terra, que irá
redimir, com o Espírito celeste, imperecível, ao qual retornará. É este mesmo
simbolismo que cobre o coro das igrejas de violeta às Sextas-Feiras Santas.
Pela mesma razão, inúmeros evangeliários, livros de salmos e breviários,
anteriores ao Renascimento, são escritos com letras douradas sobre um
pergaminho violeta: o leitor tinha continuamente sob os olhos a revelação,
representada pelo ouro, e a paixão de Nosso Senhor, representada pela cor
violeta.
Uma consequência tardia deste simbolismo mortuário
fez do violeta a cor do luto ou do semiluto em nossas sociedades ocidentais – o
que evoca ainda mais precisamente a ideia, não da morte enquanto estado, mas da
morte enquanto passagem.
F. Portal observa, por fim, segundo Winkelman, que o
manto de Apolo era azul ou violeta, o que se reveste de especial importância se
pensarmos no parentesco dessa figura com a de Cristo nas mitologias solares
tardias. Mas o violeta é também cor de obediência, de submissão, o que não vem
contradizer a sua associação com a paixão de Cristo. Wallis Budge registra o
costume de prender ao pescoço das crianças uma pedra violeta não só para
protegê-las da doença, mas para torná-las dóceis e obedientes.
O violeta é também uma cor de tranquilidade na qual o
ardor do vermelho é suavizado. É nesta acepção que se deve compreender também a
roupa violeta do bispo. À diferença do místico, este, encarregado de velar
sobre o seu rebanho, tem de temperar o ardor de suas paixões: daí a cor de sua
roupa. O Extremo Oriente interpreta com um sentido totalmente diferente,
puramente carnal. Os coitos rituais entre yogi, nos ritos tântricos, se
realizam num quarto iluminado por uma luz violácea, porque a luz violeta
estimula as glândulas sexuais da mulher, enquanto o vermelho ativa as do homem.
Fonte: Picphotos. |
A
Temperança
A temperança significa o domínio do desejo, a
moderação, a medida: esta moderação que, cromaticamente, produz a cor violeta.
Feita da combinação do vermelho com o azul, cores que predominam na carta do
Tarô, é também a junção do ativo e do passivo, simbolizando o mistério da
criação, invisível, secreto.
É a entrada do espírito na matéria, o símbolo de
todas as transfusões espirituais. O gênio alado realiza e encarna sobre o plano
material as obras da Justiça, mas não cria nada por si mesmo.
A Temperança contenta-se em passar, de um recipiente
para outro, um líquido ondulante que permanece inalterado, sem que jamais se
perca uma gota sequer. Somente o vaso muda de forma e de cor. Não seria, como o
havíamos percebido a respeito da serpente, o símbolo do dogma da Reencarnação
ou da transmigração das almas? Basta lembrarmos que em grego clássico o ato de
derramar de um vaso em outro é tomado como sinônimo de metempsicose.
Assim, entre a Morte e o Diabo, a temperança alada
nos faz lembrar a grande lei da eterna circulação dos fluidos vitais, no plano
cósmico, e, no plano psicológico, a necessidade do difícil equilíbrio interior
que devemos manter entre os dois pólos do nosso ser, feito pela metade vermelho
e azul, de terra e céu. Se o líquido que passa de um vaso a outro apresenta
ondulações que não têm relação alguma com as leis físicas, é porque a serpente
é aí, uma vez mais, o símbolo da passagem indefinidamente recomeçada de um
mundo a outro.
Dicionário de Símbolos, J. C. & A. G.
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