Yama, Dharmaraja. Fonte: Himalayan Art. |
Responsabilidade
O relacionamento humano estabelece um campo de
responsabilidade para os que participam desse relacionamento.
A energia nasce do relacionamento. Ela é produzida ou
liberada pela interação de correntes de desejo ou de compaixão que fluem das
polaridades do Todo universal, bem como das que se encontram no interior dos
corpos e das personalidades. Energia é relacionamento em ação. É o “fato”
produzido pelo relacionamento. A atitude do homem para com esse fato – o uso
que lhe dá – estabelece o caráter e a qualidade de sua participação na
sociedade e no universo. A sociedade é o que o uso que ela dá à energia nascida
do relacionamento humano a obriga a ser. No problema da propriedade pessoal, os
dois pólos do relacionamento produtor de energia são o espírito humano
individual e a riqueza coletiva da natureza e da sociedade. Nos problemas de responsabilidade, as duas polaridades envolvidas são dois
seres humanos, os dois grupos que assumem o papel jurídico de pessoas.
Responsabilidade implica, na verdade, três fatores.
Implica duas partes num relacionamento bipolar considerado dentro do quadro de
referência de algum todo em que as duas pessoas participam, seja esse todo uma
empresa comercial, uma igreja, uma nação ou todo o universo.
Ambas as partes no relacionamento são “responsáveis”,
ainda que de diferentes modos. O gerente da corporação é responsável perante o
proprietário ou a diretoria; mas a responsabilidade do proprietário para com o
gerente é igualmente real. Ambos os tipos de responsabilidade têm além disso,
significado fundamental, apenas com referência à corporação como um todo ou à
comunidade social que inclui todos os participantes da empresa.
Responsabilidade é uma expressão de mutualidade no
relacionamento; é o resultado inevitável dela. Atender à própria
responsabilidade é ver o relacionamento mútuo de forma completa e acabada. Não
há experiência completa ou sequer vital de relacionamento se a responsabilidade
por seus produtos não for assumida e desempenhada; assim como não pode haver
vida individual completa sem um pleno uso de posses naturais e sociais.
No centro de todo relacionamento está o princípio de
polarização. Onde quer que dois elementos entrem em relação, um tipo ou outro
de polarização se estabelece entre eles. Pode tratar-se do tipo de polarização
elétrico, expresso em partículas atômicas como prótons e elétrons, ou o tipo
biológico que se manifesta em fatores sexuais, ou o tipo social que se encontra
sempre que líder e liderado, administrador e trabalhadores estão relacionados
no trabalho produtivo ou na luta político-econômica. Todos esses tipos de
polarização têm um caráter em comum; eles possibilitam mudança, transformação e
progresso.
O sexo, por exemplo, é o fator produtor de variação
em tudo quanto vive. Quando duas linhagens hereditárias se mesclam em
fecundação sexual bipolar, cada qual dotada de um passado infinitamente
complexo e abrangente, um “mistério” é posto em operação dinâmica. A novidade
criativa do “momento” é expressa mediante a forma.
O Eterno Criativo atua através do sexo e, em
variáveis graus, através de qualquer relacionamento polarizado, porque a união
polar abre a porta para a nova variação – para o mistério.
Ser responsável é assumir o ônus de um novo
nascimento, de uma nova aventura, de um novo fato. A responsabilidade recai
sobre ambos os pais de uma criança; sobre os inventores de um novo processo e
sobre os descobridores de uma nova verdade, mas também recai sobre a sociedade
que lhes condicionou e definiu a oportunidade de inventar e descobrir por via
de suas (dela sociedade) necessidades, desejos, expectativas, vícios e também
virtudes.
Toda situação humana implica responsabilidade; ela
revela ou oculta um relacionamento entre indivíduos ou grupos, e ninguém lhe
pode fugir estando implicado no relacionamento – vale dizer, em última análise,
todo ser humano que já existiu ou que venha algum dia a existir. Toda situação
humana constitui um desafio inescapável à renovação e à criatividade humana.
Todo ato de viver entre os homens, ou mesmo no universo, envolve
responsabilidade de quem quer que pratique um ato; e recusar-se a agir equivale
apenas a agir negativamente. O mal nasce da recusa à responsabilidade. Todo
homem é responsável pelo mal quando deixa de assumir a responsabilidade de
qualquer situação e de qualquer relacionamento de que foi e é participante.
Todo indivíduo arca com os pecados de toda a
humanidade, pois está sempre e eternamente enredado em tudo quanto é humano e
implicado em todos os nascimentos e em todos os abortos.
Quando um momento de tempo é deixado inexpresso pelo
espírito vivente no homem, esse espírito deve tornar-se escravo de mais tempo.
Criar é responsabilidade incessante do espírito corporificado no homem e
através dele, porquanto a criação é simplesmente o cumprimento, por parte do
espírito, da potencialidade inerente a cada momento de tempo. O tempo é a
compaixão de Deus pelo caos: e o homem é a agência através da qual essa
compaixão deve operar em termos de atos criativos.
A responsabilidade não é só do indivíduo; nem só da
coletividade. Ela nasce do relacionamento; é a efetivação do relacionamento
dentro de um todo maior de vida em que participam aqueles que estão
relacionados.
Por esse motivo, o amor de homem e mulher não só
mistura suas energias e suas almas. Relaciona-os também à comunidade e ao
universo. Por isso, nenhuma corporação que entreteça as atividades de
administradores e empregados num contexto de produção pode permanecer
independente e isolada na sociedade; ela é responsável perante a sociedade e
co-responsável com ela. Sempre e em toda parte a mutualidade é a tônica; e a
mutualidade se demonstra assumindo-se responsabilidades conjuntamente e delas
se desincumbindo com alegria. Sua significação assim desabrocha.
Tríptico Astrológico, D. R.
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