sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A QUÍMICA DO SIGNO DE ESCORPIÃO VIII


Fonte: August McLaughlin´s Blog.

Imortalidade pessoal

A experiência da morte deve sobrevir a todo indivíduo.

Morrer em plena e lúcida consciência; conservar durante todo esse morrer uma percepção objetiva do processo de abandono das estruturas biopsíquicas que até então condicionaram a experiência; entrar deliberadamente no que para outros seres humanos parece, ao menos temporariamente, escuridão e perda de identidade.

A morte não precisa ser aterradora para ninguém que entenda a natureza e o caráter do ego, sua formação e seu propósito. O que tem começo precisa necessariamente ter um fim num universo em que todos os movimentos são cíclicos. Mas nenhum indivíduo precisa identificar seu ser essencial com qualquer início particular; e, portanto, ninguém precisa perder a própria identidade através do fim correspondente.

A compreensão da morte subentende uma igual compreensão do nascimento. Aquele que sabe como e por que qualquer coisa começa sabe também como e por que termina: e, sabendo-o, pode transformar esse fim num novo e maior começo. Esse é o segredo da “imortalidade pessoal”. A morte, porém, não constitui um acontecimento simples ou exclusivo, porque o homem consciente e individualizado não é apenas uma coisa. A formação de seu ego é um processo distinto da geração de seu organismo físico; e quando entidades têm diferentes começos, elas têm que ter, igualmente, diferentes fins. E “fim” não precisa significar cessação e aniquilamento; pode significar trânsito e reorganização.

Um processo não de todo diferente deve operar no caso do ego, que é uma estrutura de elementos psíquicos e mentais diferenciados ao longo dos anos de formação da vida e da personalidade. Esses elementos psico-mentais não vêm do nada. Eles são, na verdade, o resultado da evolução genérica da humanidade e da safra coletiva de imagens-sentimento, significados, conceitos, ideais e propósitos produzidos por uma sociedade, por uma cultura, por uma comunidade. Esse mar psicomental coletivo de valores humanos é não só uma vasta coleção de imagens e de ideias; é também um vasto reservatório de energia – energia humana num estado coletivo não-individualizado, energia psicomental. Uma pessoa individual depende desse reservatório para dar substância ao seu ego cujo processo de formação e diferenciação é lento. A consciência individualizada que dá forma e substância à compreensão “eu sou esta pessoa específica” emerge aos poucos da mente da humanidade como um todo que se desenvolve coletivamente.

A morte leva, com o tempo, à vitória final da mente coletiva sobre o ego consciente – à reabsorção deste último naquela. Mas esse não é um fim absolutamente inevitável do processo individualizador de formação do ego dentro do âmbito de vida de uma personalidade. Se essa personalidade desenvolveu estruturas de ego nítidas através de comportamento e pensamento significativos e pessoalmente criativos, essas estruturas podem transformar-se no foco para a incorporação do Ser-Estrela; e quando isso ocorre, o poder dessa incorporação pode vencer o impulso inevitável rumo à reabsorção no oceano psíquico e mental da humanidade coletiva. Ele escapa à voragem das forças desintegradoras e permanece sendo um foco de consciência individual, que agora serve ao propósito de um ser maior – o “Ele” que se transformou em “Eu”. Isso é o que se tem chamado de “imortalidade pessoal”.


A pessoa comum de nossa atual humanidade morre todas as noites como indivíduo. Ela deixa a natureza humana e as energias coletivas de sua comunidade assumirem o controle de seus instrumentos físicos e psíquicos para a ação. Esse controle do inconsciente coletivo sobre os mecanismos da consciência se manifesta, em geral, naquilo que chamamos de “sonhos”. A voz da sabedoria coletiva da raça e da cultura maternas fala, na linguagem habitualmente confusa das imagens oníricas, à criança-ego desobediente que tem afirmado de formas demasiado excêntricas, excessivamente diferenciadas, e portanto perigosas, sua vontade de ser um indivíduo exclusivo e original. É uma voz normativa, que procura compensar as anormalidades da existência humana individualizada, especialmente em nosso artificial ambiente citadino. É a voz das “raízes” da existência humana; um poder conservador que acentua não os novos caminhos da evolução mas sim a velha sabedoria da experiência coletiva e da idade; a trilha segura da tradição longuissimamente experimentada e do viver salutar.

Esta “descida às raízes” da humanidade, feita no encerrar da atividades do dia e, mais conclusivamente, no fim do ciclo de vida de um corpo objetivo de subsâncias terrenas, exprime-se no simbolismo astrológico de Plutão. Donde ter sido Plutão associado à ideia de morte; como deveria, igualmente, associar-se ao ato de conciliar o sono. Plutão deve, com efeito, ser entendido como o poder que compele toas as individualizações separadas (egos, entidades nacionais, culturas específicas, etc.) a tornar a suas raízes coletivas ou aos fundamentos de seu ser.

O “inferno” é a marca de todo o mal humano do passado impressa na memória coletiva da Mente do Homem. Enfrentá-lo e não naufragar no pavor é o preço final a pagar pela imortalidade pessoal. Esse confronto é a derradeira experiência plutoniana.

Sempre que um ciclo humano termina, há algo que nasce nesse e desse ciclo e que tem a potencialidade de se transformar em organismo imortal, amealhando tudo quanto houve de espiritual nesse ciclo e reincorporando, sem ruptura de identidade consciente, a essência do ciclo num outro maior e mais universal. A potencialidade apenas; pois, salvo em bem raros casos, a confrontação plutoniana com o choque da morte e com o mal acumulado do passado esmiúça o sentido de identidade pessoal.

O homem “cai” no sono, um pouco como “cai” nas ciladas do amor e como “cai” nos infernos que invocou. Plutão signfica morte e perda de identidade consciente. Ele é o derradeiro Provador – não como Saturno, cujas provas dizem respeito às confrontações cotidianas da existência orgânica controlada pelo ego, mas num sentido muito, muito mais profundo. O que Plutão põe à prova é a capacidade em todo indivíduo de transferir seu sentido de identidade pessoal da esfera da objetividade terrena e das ligações biopsíquicas para aquela da atividade “celestial”.

Plutão guarda o caminho que leva pela morte inconsciente ou pela consciente Crucificação a algum gênero de reintegração celeste. Mas – ai de nós! – o caráter espantoso das confrontações que ele suscita como condições necessárias de reintegração no Ser consciente é tal que só pouquíssimos homens as podem enfrentar e, ao mesmo tempo, reter sua plena consciência individual e seu contato com a Estrela. A menos de se ter, em verdade, experimentado essa Estrela dentro do próprio ser, as provas plutonianas só poderão significar desintegração e morte inconsciente; já que, durante elas, as trevas do “inferno” desterram para longe todo o céu e as Estrelas que estão em cima. Mas, se a divina Presença permanecer vibrante dentro da alma temporariamente submersa no antigo mal, essa Presença poderá atuar como o núcleo do novo “Corpo de luz”, do celeste corpo, do Corpo-Cristo.

Depois, é a Ressurreição...

Tríptico Astrológico, D. R.

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