Fonte: August McLaughlin´s Blog. |
Imortalidade
pessoal
A experiência da morte deve sobrevir a todo
indivíduo.
Morrer em plena e lúcida consciência; conservar
durante todo esse morrer uma percepção objetiva do processo de abandono das
estruturas biopsíquicas que até então condicionaram a experiência; entrar
deliberadamente no que para outros seres humanos parece, ao menos
temporariamente, escuridão e perda de identidade.
A morte não precisa ser aterradora para ninguém que
entenda a natureza e o caráter do ego, sua formação e seu propósito. O que tem
começo precisa necessariamente ter um fim num universo em que todos os
movimentos são cíclicos. Mas nenhum indivíduo precisa identificar seu ser
essencial com qualquer início particular; e, portanto, ninguém precisa perder a
própria identidade através do fim correspondente.
A compreensão da morte subentende uma igual
compreensão do nascimento. Aquele que sabe como e por que qualquer coisa começa
sabe também como e por que termina: e, sabendo-o, pode transformar esse fim num
novo e maior começo. Esse é o segredo da “imortalidade pessoal”. A morte,
porém, não constitui um acontecimento simples ou exclusivo, porque o homem consciente
e individualizado não é apenas uma coisa. A formação de seu ego é um processo
distinto da geração de seu organismo físico; e quando entidades têm diferentes
começos, elas têm que ter, igualmente, diferentes fins. E “fim” não precisa
significar cessação e aniquilamento; pode significar trânsito e reorganização.
Um processo não de todo diferente deve operar no caso
do ego, que é uma estrutura de elementos psíquicos e mentais diferenciados ao
longo dos anos de formação da vida e da personalidade. Esses elementos
psico-mentais não vêm do nada. Eles são, na verdade, o resultado da evolução
genérica da humanidade e da safra coletiva de imagens-sentimento, significados,
conceitos, ideais e propósitos produzidos por uma sociedade, por uma cultura,
por uma comunidade. Esse mar psicomental coletivo de valores humanos é não só
uma vasta coleção de imagens e de ideias; é também um vasto reservatório de
energia – energia humana num estado coletivo não-individualizado, energia
psicomental. Uma pessoa individual depende desse reservatório para dar
substância ao seu ego cujo processo de formação e diferenciação é lento. A
consciência individualizada que dá forma e substância à compreensão “eu sou
esta pessoa específica” emerge aos poucos da mente da humanidade como um todo
que se desenvolve coletivamente.
A morte leva, com o tempo, à vitória final da mente
coletiva sobre o ego consciente – à reabsorção deste último naquela. Mas esse
não é um fim absolutamente inevitável do processo individualizador de formação
do ego dentro do âmbito de vida de uma personalidade. Se essa personalidade
desenvolveu estruturas de ego nítidas através de comportamento e pensamento
significativos e pessoalmente criativos, essas estruturas podem transformar-se
no foco para a incorporação do Ser-Estrela; e quando isso ocorre, o poder dessa
incorporação pode vencer o impulso inevitável rumo à reabsorção no oceano
psíquico e mental da humanidade coletiva. Ele escapa à voragem das forças
desintegradoras e permanece sendo um foco de consciência individual, que agora
serve ao propósito de um ser maior – o “Ele” que se transformou em “Eu”. Isso é
o que se tem chamado de “imortalidade pessoal”.
A pessoa comum de nossa atual humanidade morre todas
as noites como indivíduo. Ela deixa a natureza humana e as energias coletivas
de sua comunidade assumirem o controle de seus instrumentos físicos e psíquicos
para a ação. Esse controle do inconsciente coletivo sobre os mecanismos da
consciência se manifesta, em geral, naquilo que chamamos de “sonhos”. A voz da
sabedoria coletiva da raça e da cultura maternas fala, na linguagem
habitualmente confusa das imagens oníricas, à criança-ego desobediente que tem
afirmado de formas demasiado excêntricas, excessivamente diferenciadas, e
portanto perigosas, sua vontade de ser um indivíduo exclusivo e original. É uma
voz normativa, que procura compensar as anormalidades da existência humana
individualizada, especialmente em nosso artificial ambiente citadino. É a voz
das “raízes” da existência humana; um poder conservador que acentua não os
novos caminhos da evolução mas sim a velha sabedoria da experiência coletiva e
da idade; a trilha segura da tradição longuissimamente experimentada e do viver
salutar.
Esta “descida às raízes” da humanidade, feita no
encerrar da atividades do dia e, mais conclusivamente, no fim do ciclo de vida
de um corpo objetivo de subsâncias terrenas, exprime-se no simbolismo
astrológico de Plutão. Donde ter sido Plutão associado à ideia de morte; como
deveria, igualmente, associar-se ao ato de conciliar o sono. Plutão deve, com
efeito, ser entendido como o poder que compele toas as individualizações
separadas (egos, entidades nacionais, culturas específicas, etc.) a tornar a
suas raízes coletivas ou aos fundamentos de seu ser.
O “inferno” é a marca de todo o mal humano do passado
impressa na memória coletiva da Mente do Homem. Enfrentá-lo e não naufragar no
pavor é o preço final a pagar pela imortalidade pessoal. Esse confronto é a
derradeira experiência plutoniana.
Sempre que um ciclo humano termina, há algo que nasce
nesse e desse ciclo e que tem a potencialidade de se transformar em organismo
imortal, amealhando tudo quanto houve de espiritual nesse ciclo e
reincorporando, sem ruptura de identidade consciente, a essência do ciclo num
outro maior e mais universal. A potencialidade apenas; pois, salvo em bem raros
casos, a confrontação plutoniana com o choque da morte e com o mal acumulado do
passado esmiúça o sentido de identidade pessoal.
O homem “cai” no sono, um pouco como “cai” nas ciladas
do amor e como “cai” nos infernos que invocou. Plutão signfica morte e perda de
identidade consciente. Ele é o derradeiro Provador – não como Saturno, cujas
provas dizem respeito às confrontações cotidianas da existência orgânica
controlada pelo ego, mas num sentido muito, muito mais profundo. O que Plutão
põe à prova é a capacidade em todo indivíduo de transferir seu sentido de
identidade pessoal da esfera da objetividade terrena e das ligações
biopsíquicas para aquela da atividade “celestial”.
Plutão guarda o caminho que leva pela morte
inconsciente ou pela consciente Crucificação a algum gênero de reintegração
celeste. Mas – ai de nós! – o caráter espantoso das confrontações que ele
suscita como condições necessárias de reintegração no Ser consciente é tal que
só pouquíssimos homens as podem enfrentar e, ao mesmo tempo, reter sua plena
consciência individual e seu contato com a Estrela. A menos de se ter, em
verdade, experimentado essa Estrela dentro do próprio ser, as provas
plutonianas só poderão significar desintegração e morte inconsciente; já que,
durante elas, as trevas do “inferno” desterram para longe todo o céu e as
Estrelas que estão em cima. Mas, se a divina Presença permanecer vibrante
dentro da alma temporariamente submersa no antigo mal, essa Presença poderá
atuar como o núcleo do novo “Corpo de luz”, do celeste corpo, do Corpo-Cristo.
Depois, é a Ressurreição...
Tríptico Astrológico, D. R.
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