terça-feira, 21 de outubro de 2014

O EQUILÍBRIO DO SIGNO DE LIBRA VI


O nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli. Fonte: GalleryHip.

Quem não afirma amar? Mas o amor, em toda a nossa cultura cristã que se esforçou por alcançar objetivos extraterrenos e procurou negar a “boa Terra”, este amor assumiu o caráter ideal de sentimento transcendente, em vez do de produtividade e atividade radiante.

A primeira grande prova da vida espiritual é o isolamento. Nascimento é isolamento. Todas as grandes coisas começam no isolamento. Mas só podem madurar através da mutualidade. Identidade é unicidade; amor é comunhão cooperativa. Esses são os dois pólos do desenvolvimento humano. Aquilo que começa em ego deve compreender-se e efetivar-se em mutualidade e em amor. O amor não é basicamente um sentimento; ele é a semente da mutualidade. Ele é a visão do “um ao outro” para o “um”, a anunciação da atividade em comum.

Mas não só em comum, e sim em mútuo intercâmbio. Onde não há intercâmbio, inter-relação, reciprocidade, só pode haver a sombra do amor. Amor unilateral não é amor. O amor é ação mútua; e o “sentimento” maduro de amor, essa prodigiosa essência de fogo e luz, nasce da mutualidade, da comunhão, da reciprocidade.

O vocábulo “mútuo” vem do latim muto, que significa “mudar”. A etimologia, aqui como em tantos outros casos, revela o núcleo do mistério. No domínio da relação há mudança constante. Há mudança porque há inevitável mutualidade. Cada qual atua sobre o outro, à proporção que reage ao outro.

A mutualidade é mudança que torna à sua fonte depois de ter participado da vida universal: não só o intercâmbio de amores imersos em relacionamentos e levados de um lado para outro por ondas de fusões apaixonadas, mas a grande representação da mudança universal em que cada um se torna todos, de modo que o todo possa focalizar-se em cada um.


Essa mutualidade é um fato universal; ninguém pode escapar à volta da maré, se se aventurou a singrar o mar da ação. O horizonte da maioria dos homens é tão exíguo que a onde que os lançaem estupor sobre a rocha de sua existência separada parece um impulso de nenhures. Se tão-somente eles pudessem ver, longe, na distância abissal, a reação disto, oriunda de uma direção originalmente oposta, saberiam que o golpe que lhes derruba a orgulhosa singularidade é filho da relação não vivida dos gestos que eles mesmos projetaram num espaço que acreditavam apenas passivamente receptivo.

O espaço não é uma receptividade vazia, um vaso sem fundo; espaço é mutualidade. É, de fato, a substância da relação total e universal. Tudo que é atirado ao espaço retorna acrescido de todo o mundo, como uma caixa de ressonância acrescenta sons harmônicos a qualquer som original. Cada nota ferida ressoa enriquecida de múltiplas ressonâncias. Cada corda da harpa universal evoca uma ressonância em cada outra corda. Para o ego preso, isto é karma. Para o sábio, é amor.

A Harmonia é a efulgência do amor; a substância da mutualidade. Harmonia é o “tornar-se um” dentro do ato de participação no Todo. Experimentar verdadeira Harmonia é enredar-se conscientemente na inteireza do Todo. O Todo envolve você; sua atividade, o Todo. Isto é participação real, ilimitada participação – uma corrente que não para em parte alguma, porque retorna a toda parte. O Todo flui para a parte; a parte “ama”, à medida que focalia o Todo-em-ato em nome e justamente com todas as outras partes que partilham o ato e o amor. Cada parte está unida com todas as outras através daquilo que a torna distinta das demais.

Amar é bendizer a mudança com a compreensão da eternidade abrangente. É participar alegremente da Harmonia em que todos os eus se tornam o que são por ressoarem àquilo que tudo é, enquanto demonstram, na mais extrema distinção, aquela verdade, aquela identidade e aquela chama que constituem seu quinhão de responsabilidade dentro do Todo universal. O amor estabelece esse quinhão; Deus, a responsabilidade. O homem se torna verdadeiramente homem à medida que compreende a ambos, que a ambos cumpre nessa reciprocidade de ser que constantemente renova e proclama a fundação comum de toda atividade e de toda consciência.

É a ânsia mais pungente do homem, a ânsia de amar. Disse Jesus: “Amai-vos uns aos outros.” E suas palavras elevaram-se até as estrelas. E as estrelas cantaram de alegria; elas, que eternamente se movem através dos espaços e do tempo incessantemente; que circulam em companhia e mutualidade com a luz, sós mas em paz, naquela Harmonia das Esferas que os homens que amam nobremente, com respeito e alegria, experimentam como Deus.

Tríptico Astrológico, D. R.

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