A Constelação de Capricórnio. Fonte: Mexican Skies. |
Hoje às 7h
42min (hora de brasília) terminou mais uma fase da jornada solar em torno do zodíaco
– foi a etapa do signo de Capricórnio.
Para um
morador do Rio de Janeiro, onde facilmente se enfrenta 40, 50, 150 ou até 200º
C, os valores associados a esse signo ou a seu regente podem desfocar um pouco
a nossa perspectiva. Sim, o regente do signo de Capricórnio – Saturno – está
associado a algo bem seco e bem frio. A secura marcou presença por aqui nesses
dias – não chove e falta água direto nas grandes cidades – mas e o frio? Onde
se deparar com o frio que não seja morando dentro de um ar condicionado? Até
nos trópicos essa época é uma época de concentração – ainda que seja a
concentração do ar (ofício do ar condicionado), para que todas as coisas não se
expandam até explodir com o calor sem limites.
É com o
suor do esforço saturnino que daremos sequência à série de resumos e fragmentos
de mitos, símbolos, imagens e palavras. A intenção desde o início é a de sugerir
a atmosfera de cada uma das doze estações que completam o ciclo zodiacal.
Como de
costume, o primeiro material a surgir será sobre Capricórnio e sobre o símbolo
associado da Cabra. Logo adiante trataremos de Cronos e Saturno, deuses
associados a essa fase do ano tanto para os antigos gregos quanto para os
romanos.
A cor Preto
será abordada em seu aspecto simbólico, já que se trata de uma cor relacionada
às qualidades do signo de Capricórnio. Mas também, veremos algo sobre o planeta
Saturno do ponto de vista astronômico, seguido de uma perspectiva mais
filosófica que, como já é de costume, encerra esta estação com as palavras de
Dane Rudhyar.
E, mais
uma vez, espero que gostem.
O
símbolo Capricórnio
Décimo signo do Zodíaco, que, no hemisfério norte,
começa no solstício de inverno – a porta dos deuses – quando a morte aparente
da natureza corresponde à plenitude espiritual, à epoca em que a engenhosidade
do homem atinge seu ponto máximo, pois ele está liberado das labutas sazonais.
Símbolo do fim de um ciclo e, sobretudo, do início de um ciclo novo: é o signo que inaugura o Zodíaco do Extremo Oriente. Exprime a
paciência, a perseverança, a prudência, a industriosidade, a realização, o
sentido do dever. Saturno é o seu ascendente.
Para o hemisfério norte, o Capricórnio simboliza o
despojamento, a retração e a concentração do inverno em sua severa grandeza.
Esse ponto de partida une-se dialeticamente a uma noção de chegada, de
destinação, de objetivo, concebido como um meio-dia terrestre, um ponto
culminante.
O signo é representado por um animal fabuloso, metade
bode, metade delfim, ou por uma cabra, quadrúpede trepador, atraído pelos
cumes. É regido por Saturno que, por sua vez, está associado a tudo o que é
duro, ingrato, sombrio e obscuro, impiedoso deus do tempo que cristaliza o
homem em suas ambições supremas, quando não o condena ao despojamento e à
renúncia.
A natureza capricorniana traz a marca desse universo
frio, silencioso, imóvel. Edifica-se sobre um movimento inicial de retraimento
em si mesmo e de concentração; a vida deserta o aspecto exterior desse
personagem que possui, muitas vezes, as características da grisaille (pintura
monocromática, séc. XVII; de tonalidade basicamente cinzenta) com sua
simplicidade, sobriedade e total ausência de brilho; refugia-se nas profundezas
de seu ser. E a lenta elevação dessas forças profundas, cuja existência é com frequência ignorada
pela própria pessoa, é o que lhe permite afirmar seu valor, assegurando-lhe o
pleno domínio de si mesma. Esse autodomínio costuma ser o resultado de um
paciente treinamento da vontade, exercida para afirmar seu comando sobre o
instinto e a sensibilidade. Disso deriva a predominância das virtudes frias;
pelo menos, quando o fracasso dessa auto-realização não provoca no
capricorniano uma fuga para a taciturnidade, o pessimismo ou a melancolia.
A figura simbólica desse signo – corpo de bode, rabo
de peixe – revela a natureza ambivalente do capricorniano, entregue às duas
tendências da vida: em direção ao abismo ou às alturas, em direção à água ou à
montanha. Ele encerra as possibilidades inversas, evolutivas e involutivas, e somente numa perpétua tensão entre suas
inclinações opostas consegue encontrar um difícil equilíbrio.
Deus egípcio Khnum. Fonte: The Journey into Egipt Tarot. |
O
simbolismo da Cabra
Certas povoações da China estabelecem uma relação
entre a cabra e o deus do raio: a cabeça da cabra sacrificada serve de bigorna
ao deus. Essa mesma relação entre o raio e a cabra é atestada no Tibete. Ela
representa, em suma, um instrumento de atividade celeste em benefício da terra,
e até mesmo, mais particularmente, da agricultura e da criação de animais. O
cabrito Montês é um animal associado aos deuses da fertilidade em Susa (cidade
da Assíria)
Entre os gregos, a cabra simboliza o relâmpago. A
estrela da Cabra, na constelação do Cocheiro, anuncia a tempestade e a chuva; e
foi com o leite da cabra Amaltéia que Zeus se alimentou.
A ideia de associar a cabra à manifestação do deus é
muito antiga. Segundo Diodoro da Sicília (hist. grego do século de Augusto),
cabras teriam dirigido a atenção dos homens de Delfos para o lugar onde saía
fumaça das entranhas da terra. Tomadas de vertigem, elas dançavam. Intrigados
com essas danças, alguns homens compreenderam o sentido dos vapores que
emanavam da terra: eles deviam interpretar aquela teofania; e então,
instituíram um oráculo.
Uma vestimenta denominada cilicium (cilício), tecida de lã de cabra, era
usada por certos romanos, e pelos sírios, no momento da prece, para simbolizar
sua união com a divindade. Entre os cristãos, o uso ascético do cilício adquire
o mesmo sentido, com a intenção de mortificar a carne como penitência, e de
liberar assim a alma vivificada que almeja se entregar plenamente ao seu deus.
O uso dessa vestimenta evoca o hábito de burel (tecido grosseiro de lã) dos
monges.
A esse propósito, notemos que a palavra sufi (fr. soufi) proviria, segundo a tradição
mais aceita no Oriente, de suf,
termo que designa o feltro de pêlo de cabra com o qual se fazia ritualmente a
vestimenta dos dervixes de certas confrarias místicas muçulmanas,
particularmente severas em seus regulamentos internos.
Os órficos comparam a alma iniciada a um cabrito
caído dentro do leite, i.e., que vive do
alimento dos neófitos para alcançar a imortalidade de uma vida divina. Nas
orgias dionisíacas (bacanais), a pele dos cabritos degolados vestia as
Bacantes. Às vezes, o cabrito designa Dioniso (Baco) em transe místico. É o
recém-nascido para uma vida divina. Zeus, quando criança, sugava o leite da
cabra Amaltéia que foi transformada em ninfa, depois em deusa nutridora, e em
seguida em filha do Sol.
Em todas essas tradições, a cabra aparece como
símbolo da ama-de-leite e da iniciadora, tanto no sentido físico como no
sentido místico das palavras.
Dicionário de Símbolos, J. C. & A. G.
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