quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A IMPORTÂNCIA DO SIGNO DE LEÃO V


Campo magnético do Sol. Fonte: Red Orbit.

O SOL

Em seus primórdios, há cerca de 5 bilhões de anos, a estrela que é o nosso Sol emergiu de uma vasta nuvem de hidrogênio frio e poeira estelar velha numa região esparsamente povoada da Via Láctea. Alguma perturbação, talvez uma onda de choque de uma explosão estelar próxima, deve ter reverberado por essa nuvem e precipitado seu colapso: átomos muito dispersos foram se agrupando por gravitação em pequenos torrões, os quais, por sua vez, se aglomeraram e continuaram se agregando num ritmo cada vez mais acelerado. A súbita contração da nuvem elevou sua temperatura, fazendo-a girar. O que havia sido uma extensão difusa, fria e informe tornara-se agora uma nebulosa proto-solar densa, quente e esférica no limiar de um parto estelar.

A nebulosa achatou-se e assumiu a forma de um disco com um bojo central. Foi lá, no cerne desse disco, que o Sol veio à luz. No momento em que começou a fusão autoconsumptiva do hidrogênio na fornalha infernal de vários milhões de graus no núcleo do Sol, o impulso energético centrífugo estancou o colapso gravitacional centrípeto. No decorrer dos milhões de anos seguintes, o restante do Sistema Solar foi se formando a partir do gás e da poeira que haviam remanescido em torno do Sol incipiente.

Ainda enquanto se formavam, os planetas afiançaram sua individualidade, pois cada um acumulou as substâncias peculiares à sua localização na nebulosa. Na parte mais quente, ladeando o Sol, Mercúrio materializou-se de uma poeira primordialmente metálica, enquanto Vênus e a Terra maduraram onde poeira rochosa e metais proliferavam. Logo além de Marte, dezenas de milhares de planetesimais rochosos tiraram proveito do abundante suprimento de carbono, mas não conseguiram se juntar num planeta maior. Essa enxurrada de mundos incompletos, chamados asteróides, ainda vaga na vasta faixa entre Marte e Júpiter; seu território, o Cinturão de Asteróides, é o grande marco divisório do Sistema Solar: do lado próximo ao Sol ficam os planetas terrestres; do outro, os gigantes gelados gasosos.

Os planetesimais mais distantes do Sol, sob temperaturas mais baixas, assimilaram quantidades abundantes de água congelada e outros compostos contendo hidrogênio. O primeiro a alcançar dimensões apreciáveis atraiu e reteve grandes quantidades de gás de hidrogênio, transformando-se em Júpiter, o colossal planeta cuja massa é duas vezes maior que a de todos os outros planetas juntos. Saturno também engrandeceu como gás. Mais longe do Sol, onde a poeira mostrou-se ainda mais fria e rarefeita, os planetesimais demoraram mais para se desenvolver. Quando Urano e Netuno atingiram massa suficiente para se guarnecerem de hidrogênio, o grosso desse gás já se dissipara. E nos confins remotos de Plutão só restaram lascas de rochas e gelos.

O brilho do jovem Sol sobre os planetas era tênue, mas foi se tornando gradualmente mais quente e mais luminoso ao longo dos primeiros 2 bilhões de anos, à medida que armazenava hélio em seu núcleo. Hoje, já na meia-idade, o resplendor do astro continua aumentando, graças à conversão de 700 milhões de toneladas de hidrogênio em hélio a cada segundo. Mesmo com essa taxa galopante de consumo, a abundância de hidrogênio no Sol ainda nos garante de 3 a 5 bilhões de anos de luz confiável. Porém, é inevitável que, à medida que vai se convertendo para a fusão do hélio, ele se torne tão quente que ferverá os oceanos da Terra e aniquilará toda a vida que gerou aqui. A decuplicação da temperatura, necessária para a queima do hélio, fará com que o Sol aquentado fique vermelho e cresça em tamanho até engolir Mercúrio e Vênus e derreter a superfície da Terra. Cem milhões de anos depois, quando houver reduzido mais hélio a meras cinzas de carbono, despojar-se-á de suas camadas externas e as despachará para além de Plutão.

O glorioso Sol da nossa era, progenitor dos planetas e sua principal fonte de energia, responde por 99,9% da massa do Sistema Solar. Tudo o que resta – todos os planetas, com suas luas e anéis, todos os asteróides e cometas – representa apenas 0,1%. Essa radical desigualdade entre ele e o somatório de seus companheiros define o equilíbrio de poder existente, pois a lei universal da gravidade decreta que os mais massudos terão domínio sobre os menos massudos. A gravidade do Sol mantém os planetas em órbita e dita suas velocidades: quanto mais próximo dele, mais depressa se movem. Mas o Sol, por seu turno, se dobra à vontade da massa concentrada de estrelas no centro da Via Láctea, em torno da qual orbita uma vez a cada 230 milhões de anos, conduzindo os planetas consigo.

Os planetas retribuem o favor de receberem luz do Sol refletindo-lhe os raios e, devido a isso, aparentam brilhar, embora não emitam luz própria. O Sol é o único corpo do Sistema Solar que lança luz de si; todos os outros reluzem por glória refletida.

As visitas dos cometas, interpretadas desde tempos imemoriais como sinais e prodígios, permitiram que se traçasse recentemente a verdadeira extensão do domínio do Sol. Delineando a parte visível da trajetória dos cometas e extrapolando o restante, os astrônomos mostraram que muitos desses astros provêm não das cercanias de Plutão, mas de um segundo conceptáculo centenas de vezes mais distante. Apesar de sua distância inimaginável, esses corpos ainda pertencem ao Sol, ainda acatam sua gravidade, ainda recebem lampejos de sua luz.

Voando através de uma Aurora. Fonte: NASA.

A luz solar, que dispara pelo espaço afora à estonteante velocidade de quase 300 mil quilômetros por segundo, demora éons para emergir do interior do Sol. Ela avança apenas alguns quilômetros por ano nas proximidades do núcleo solar, onde a compressão da matéria absorve-a repetidamente, impedindo-a de sair. Irradiada dessa maneira, a luz pode viajar por 1 milhão de anos antes de alcançar a região de convecção do Sol, onde finalmente pega uma rápida carona para cima e para fora nos remoinhos turbulentos dos gases ascendentes. Tão logo esses torvelinhos liberam suas cargas de luz, voltam a afundar – para subirem mais tarde trazendo mais luz.

A superfície luminosa do Sol – a fotosfera – fervilha como se estivesse em ebulição com o constante tumulto da energia liberada. As manchas solares indicam áreas de intensa atividade magnética no Sol e o fato de serem escuras decorre da sua relativa frieza – 4 mil graus Kelvin, comparado com os quase 6 mil graus das áreas vizinhas. O nível de atividade solar aumenta e diminui em ciclos com duração média de onze anos e as manchas solares se mesclam, metamorfoseiam e multiplicam aproximadamente no mesmo compasso. A quantidade e distribuição das manchas oscilam entre fome e fartura, desde a ausência completa durante o “mínimo solar” ou Sol calmo, ou algumas poucas manchas pontilhando as altas latitudes do Sol, até o “máximo solar” ou Sol ativo, cinco ou seis anos depois, quando centenas delas se aglomeram perto do equador. Embora as manchas solares pareçam se reunir e dispersar como nuvens pela fotosfera, são na realidade transportadas daqui para lá pela rotação do Sol.

O Sol gira em torno de seu eixo aproximadamente uma vez por mês, numa continuação do movimento giratório que lhe deu origem. Sendo uma enorme bola de gás, sua rotação é complexa, com camadas diferentes rodando em velocidades diferentes. O núcleo e adjacências giram numa mesma velocidade, como um corpo sólido. A região que se sobrepõe a essa zona gira mais depressa e, mais acima, a fotosfera rodopia em várias velocidades diferentes, mais rapidamente no equador do que perto dos pólos. A combinação desses movimentos contrários fustiga o Sol sem perdão e as consequências são sentidas claramente por todo o Sistema Solar.

O “vento solar”, uma exalação aquecida de partículas carregadas, sopra do Sol turbulento e lança uma barragem constante contra os planetas. Não fosse o envoltório protetor do campo magnético da Terra, que desvia a maior parte do vento solar, não conseguiríamos suportar tal investida. De tempos em tempos, especialmente durante o máximo solar, a constância do vento solar é entremeada por surtos súbitos de partículas ainda mais energizadas de protuberâncias eruptivas na superfície do Sol, ou por bolhas gargantuescas de gás solar ejetado. Tais irrupções podem incapacitar satélites de comunicação aqui na Terra e desligar linhas de transmissões, provocando blecautes. Em doses mais brandas, as partículas do vento solar ressudam até a alta atmosfera, perto dos pólos Norte e Sul, iniciando descargas elétricas em cascata que provocam cortinas de luzes coloridas no céu – as chamadas auroras boreal e austral. Outros planetas também produzem auroras coloridas como reação ao vento solar, que continua soprando para além de Plutão, até a heliopausa – o limite ainda indefinido onde cessa a influência do Sol.

Da Terra, vemos o Sol como um círculo incandescente no céu, mais brilhante porém não maior do que a circunferência da Lua cheia. Sol e Lua mostram-se como um dueto de semelhantes. Pois, embora o diâmetro da Lua seja apenas 1/400 do 1,39 milhão de quilômetros do diâmetro do Sol, ela está quatrocentas vezes mais perto da Terra. Essa coincidência enigmática, quase preternatural, do tamanho e distância permite que a pequenina Lua bloqueie por completo o Sol sempre que os dois corpos convergem na trajetória que compartilham nos céus da Terra.

Nenhum eclipse total pode durar muito mais do que sete minutos, devido ao giro persistente da Terra em torno de seu eixo e à marcha resoluta da Lua em sua órbita. Na totalidade do eclipse, quando a Lua parece uma poça de fuligem que oculta a brilhante esfera solar e o céu escurecido adquire tons crepusculares de azul, a magnífica coroa do Sol, normalmente invisível, dá-se a ver num lampejo. Colunas peroladas e platinadas de gás coronal circundam o Sol desaparecido como uma auréola dentada. Longas faixas vermelhas de hidrogênio eletrificado saltam de trás da Lua enegrecida e dançam sobre a coroa reluzente. Todos esses espetáculos raros e inacreditáveis oferecem-se ao olho nu, já que a totalidade de um eclipse constitui o único momento seguro de olhar para o Sol onipotente sem temor de cegueira como represália.

Será por acaso que o único planeta habitado do Sistema Solar possui o único satélite precisamente do tamanho certo para criar o espetáculo de um eclipse solar total? Ou será que essa espantosa manifestação do esplendor oculto do Sol é parte do desígnio divino?

Os Planetas, D. S.

Alisson Batista

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