A Constelação de Sagitário. Fonte: Mexican Skies. |
Volto por
aqui para dividir com vocês um pouco do material que dá sequência à série de
resumos e fragmentos de mitos, símbolos, imagens e palavras associadas a cada
signo.
Desta vez
falaremos sobre ao signo de Sagitário, que nos deixa amanhã, dia 21 de dezembro
às 21h 03min (Brasília). Os fragmentos buscam sugerir a atmosfera desta
estação, que é a nona das doze estações que completam o ciclo zodiacal.
É uma época
muito estimulante, ao menos para nós do hemisfério sul. Calor, expansão, convite
aos espaços abertos, o pensamento focado em viagens, entrada de 13º salário,
participações nos lucros, etc. etc. e tal. Tudo bem, é uma época de muitos
gastos também, mas que o dinheiro entra, ele entra...
Bem, seguindo
o rito, em primeiro lugar veremos algo sobre o símbolo Sagitário, além da
tríade simbólica Arco, Flecha e Arqueiro, todos associados ao nosso signo em
foco.
Mais
adiante, teremos algo sobre a simbologia e a mitologia de Zeus-Júpiter; sobre a
figura dos Centauros e sobre a cor Verde como símbolo, esses últimos, itens
associados ao signo de Sagitário.
Como
sempre, haverá algumas informações astronômicas sobre o planeta Júpiter. E, no fim,
a parte mais filosófica – com textos de Dane Rudhyar – fica dividida em três
postagens bem interessantes sobre essa estação tão ampla, abundante e – por que
não? – um tanto exagerada nos mapas e na vida das pessoas.
De
novo, espero que todos gostem. E voltem sempre.
O
símbolo Sagitário
Na tradição dos upanixades, o sagitário – um homem
que tende a identificar-se com a flecha – dedica-se à exaltação do brâmane,
cujo conhecimento assegura a libertação do ciclo de renascimentos. É curioso
notar que essa libertação do ciclo coincide, efetivamente, com o fim das
colheitas e das vindimas, à entrada do inverno, quando toda vida parece
extinguir-se. Aquilo que é brilhante e mais sutil do que sutil;
aquilo sobre o qual repousam os mundos e os habitantes do mundo: eis o brâmane
imperecível. Ele é o sopro, a palavra, o espírito; é o real, o imortal. Saiba,
meu caro, que este é o alvo a ser atingido.
A flecha, à qual se assemelha o sagitário, dá a
síntese dinâmica do homem voando em direção a sua transformação, pelo
conhecimento, de ser animal em ser espiritual.
Nono signo do Zodíaco: situa-se antes do solstício do
inverno quando, findos os trabalhos do campo, os homens passam a se dedicar
mais à caça. Símbolo do movimento, dos instintos nômades, da independência e
dos reflexos rápidos.
Estamos no final da trindade do Fogo. Se, em Áries, a
força ígnea fosse visceral e, no Leão voluntarioso, fosse consagrada à
magnificência do Eu, aqui, tornar-se-ia a força das decantações espirituais,
das iluminações do espírito, das elevações interiores, através das quais o
instinto e o ego se ultrapassam, em transcendência, em direção ao sobre-humano.
É uma figura de sublimação a que este signo representa: um centauro, com os
quatro cascos fincados no chão, erguido diante do céu com um arco retesado na
mão, orientando a sua flecha em direção às estrelas. Retrato de uma criatura
plena que instala a sua vida na maior abertura para o universo. Diz-se,
entretanto, que ele corresponde ao signo de Júpiter, princípio de coesão e de
unificação, fundindo, na unidade global de uma grande síntese terrestre e
celeste, o humano e o divino, a matéria e o espírito, o consciente e o supraconsciente...
A sequência própria do Sagitário tem relação, portanto, com uma epopéia, uma
sinfonia, uma catedral, um itinerário de um impulso panteísta de integração à
vida universal. E, à origem do tipo sagitariano, discernimos um Eu em expansão
ou em intensidade, que busca os seus próprios limites e aspira ultrapassá-los,
sob a pressão de uma espécie de instinto de força e de grandeza. Daí vem a
aspiração a uma certa elevação ou dimensão, que ele procura em algum
arrebatamento, que pode ser um impulso de participação, de assimilação ideal na
vida coletiva ou, ao contrário, de revolta contra um poder a ser dominado ou,
ainda, a simples inflação do eu que se perde na embriaguez da grandeza...
O
símbolo Flecha
Na qualidade de utensílio ou instrumento, e já não
mais somente na qualidade de signo, a flecha é o símbolo da penetração, da
cobertura. A flecha simboliza também o pensamento, que conduz a luz e o órgão
criador, que abre para fecundar, que desdobra a fim de permitir a síntese... é
ainda o traço de luz, que ilumina o espaço fechado, porque o abrimos.
Representação do raio solar, elemento fecundante também ele, e separador de
imagens.
Ela é, igualmente, assim como a escada, símbolo dos intercâmbios
entre o céu e a terra. Em seu sentido ascendente, a flecha está ligada aos
símbolos da verticalidade; significa a retidão totalmente aérea de sua
trajetória, que, desafiando a gravidade, realiza simbolicamente uma libertação
das condições terrestres.
De modo geral, a flecha é o símbolo
universal da ultrapassagem de condições normais; é uma liberação imaginária da
distância e da gravidade; uma antecipação mental da conquista de um bem fora de
alcance.
Nos Upanixades, a flecha é principalmente símbolo de
celeridade e de intuição fulgurante. Na tradição europeia, a flecha, SAGITTA,
tem a mesma raiz do verbo SAGIRE, que significa perceber rapidamente; por isso, a flecha é o símbolo
do aprendizado rápido, e seu equivalente etimológico é o raio instantâneo: o
relâmpago.
A flecha atinge determinado objetivo, e indica uma
realização. Assemelha-se a um raio solar, e representa a arma talhada na
madeira. A esse propósito, C. G. Jung observa que os pais dos heróis divinos
são, em geral, artesãos que trabalham com madeira: escultores, lenhadores e
carpinteiros, como José, pai de criação de Jesus. Esse símbolo é empregado na
qualidade do elemento fecundante, ou como raio solar. Faz-se alusão à aljava
dos deuses e ao arco dos Centauros. Numa de suas homilias, Orígenes qualifica
Deus de arqueiro.
Nas tradições japonesas, quando associada ao arco, a
flecha simboliza o amor. Sua aparência fálica é evidente, pois ela penetra no
centro; o princípio masculino finca-se no elemento feminino. No sentido
místico, a flecha significa a busca da união divina.
Como imagens do destino, as flechas foram
interrogadas, e simbolizaram a resposta de Deus às indagações dos homens.
Para Bachelard, a imagem da flecha reúne,
corretamente, rapidez e retidão. Mais do que formal, a representação da flecha
é dinâmica, e seu dinamismo é ascencional, mais do que horizontal. Através da
imagem da flecha, estamos agora empenhados, com todo nosso ser, na dialética do
abismo e dos cumes.
A flecha deve a segurança de sua trajetória e a força
de seu impacto à coragem daquele que a lança. Identifica-se ao arqueiro, por
assim dizer: através dela, é ele próprio quem se projeta e se lança sobre a
presa. Por isso, a flecha de um deus jamais deixa de atingir o alvo.
Arqueiros e a cena de caça. Fonte: Antique Alive. |
O
símbolo do Arco e do Arqueiro
O Arco
O tiro com o arco resume exemplarmente a estrutura da
ordem ternária, tanto
por seus elementos constituintes – arco, corda, flecha – como pelas fases de
sua manifestação: tensão, distensão, arremesso.
Vale dizer que o simbolismo sexual mostra, aqui, com
especial evidência, seu indissolúvel elo com as atividades de caça e de guerra.
Nas sociedades fortemente hierarquizadas o campo
simbólico do arco vai do ato criador à busca da perfeição, tanto socialmente
(como o testemunha seu papel na cavalaria e principalmente na tradição
japonesa), como espiritualmente, sendo que o arco de Xiva assim como o de
Sagitário indicam a via de sublimação do desejo. Do despertar do desejo à busca
da santidade, veem-se aqui reunidas numa mesma imagem a energia primordial e a
energia psíquica que a tradição indiana coloca, respectivamente, no osso sacro
(primeiro Cakra) e no
ápice do crânio (sétimo Cakra).
O tiro com arco é, a um só tempo, função nobre,
função de caçador, exercício espiritual.
O guerreiro de coração puro acerta no alvo à primeira
tentativa. A flecha destina-se a ferir o inimigo, a abater ritualmente o animal
emblemático. A segunda ação tem como objetivo estabelecer a ordem do mundo; a
primeira, destruir as forças tenebrosas e nefastas. Essa a razão pela qual o
arco (em especial, o arco de madeira de pessegueiro, utilizando flechas de
artemísia ou de espinheiro) é arma de combate. É também uma arma de exorcismo,
de expulsão: eliminam-se as potências do mal atirando flechas na direção dos
quatro pontos cardeais, para o alto e para baixo (o Céu e a Terra).
A flecha identifica-se ao relâmpago, ao raio... A
flecha de Apolo, que é um raio solar, tem a mesma função que o vajra de Indra. Yao, imperador solar, atirava flechas em direção ao sol; mas as
flechas atiradas para o céu por soberanos indignos voltam-se contra eles sob
forma de relâmpagos. Mas a flecha como relâmpago – ou como raio solar – é o
traço de luz que traspassa as trevas da ignorância: portanto, é um símbolo do
conhecimento (tal como a flecha do Matador de dragão védico – que possui, além disso, na mesma perspectiva, uma
significação fálica, à qual voltaremos). Do mesmo modo, os Upanixades fazem do símbolo om uma flecha que, lançada pelo arco humano e atravessando a ignorância,
atinge a luz suprema.
Quem atira? é a interrogação que se faz a propósito da
arte japonesa do tiro com arco. Alguma coisa atira que não sou eu, mas,
sim, a identificação perfeita do eu à atividade não-atuante do Céu. Qual é
o alvo? Confúcio já dizia que o atirador
que não acertar no alvo deve buscar a origem do fracasso nele mesmo. Mas o alvo
também está nele mesmo. O que a flecha atinge é o centro do ser, é o self. Em todas as circunstâncias, alcançar o Alvo, que é a perfeição
espiritual, a união ao Divino, supõe a trajetória da flecha através das trevas que são os defeitos, as imperfeições do
indivíduo.
O arco significa a tensão de onde brotam nossos desejos. Na base desse simbolismo, encontra-se o
conceito de tensão dinamizante definido por Heráclito como expressão da força
vital, material e espiritual. O arco e as flechas de Apolo são a energia do
Sol, seus raios e seus poderes fertilizadores e purificadores.
Entesado e dirigido para o alto, o arco pode ser
também um símbolo da sublimação dos desejos. Parece ser esse o caso no signo
zodiacal de Sagitário, representado pela figura de um arqueiro a ajustar sua
flecha na direção do Céu. Entre os antigos samoiedos, o tambor tinha o nome de
arco musical, arco de harmonia, símbolo da aliança entre os dois mundos, mas
também arco de caça que projeta o xamã como uma flecha em direção ao céu.
O rigor do destino é absoluto: mesmo o inferno tem
suas leis; a própria liberdade gera uma cadeia de reações irreversíveis.
Em nós, o
primeiro ato é livre, diz Mefistófeles; somos escravos do segundo (Goethe, Fausto, 1ª parte).
Enfim, o arco é símbolo do destino. Imagem do
arco-íris no esoterismo religioso, manifesta a própria vontade divina. Exprime
também a autoridade espiritual, o poder supremo de decisão.
O Arqueiro
Símbolo do homem que mira alguma coisa e que, ao
mirar, de certo modo já a atinge em efígie... O homem identifica-se a seu
projétil.
Identifica-se, igualmente, a seu alvo, seja com a
finalidade de comer a presa que caça, seja para provar sua bravura ou
habilidade.
Assim, também, numerosas representações de feras
matando corças mostram as primeiras tomando posição por cima de suas presas,
como se quisessem cobri-las antes de devorá-las: duplo fenômeno de
identificação e de posse.
O arqueiro simboliza o desejo de posse: matar é
dominar. Geralmente, Eros é representado com um arco e uma aljava.
Dicionário de Símbolos, J. C. & A. G.
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