A batalha dos Centauros. Fonte: Florentinus 1978. |
Os
Centauros
Seres monstruosos da mitologia grega, cuja cabeça,
braço e tronco são os de um homem, e o resto do corpo e as pernas, de um
cavalo. Os Centauros vivem com suas fêmeas, as Centauras; nas florestas e nas
montanhas, alimentam-se de carne crua; não podem beber vinho sem embriagar-se;
são muito inclinados a raptar e violar as mulheres. Geralmente, aparecem em
bandos: significam a besta no
homem,
de infinitos aspectos.
Segundo contam as lendas, os Centauros repartiram-se
em duas grandes famílias. Os filhos de Ixiã e de uma das oceânidas (nome dado
às três mil ninfas, filhas de Tétis e de seu irmão, o Oceano) simbolizam a
força bruta, insensata e cega; os filhos de Filira e de Cronos, dentre os quais
o Centauro Quirão é o mais célebre, representam, ao contrário, a força aliada à
bondade, a serviço dos bons combates.
Médico muito hábil, amigo de Héracles, Quirão luta ao
lado deste no combate contra outros Centauros. Ferido por engano por uma flecha
atirada por Héracles, e desejando morrer, Quirão oferecerá seu privilégio de
imortalidade a Prometeu, para conseguir finalmente conhecer o repouso eterno.
Sem dúvida, há poucos mitos tão instrutivos como este sobre os profundos
conflitos entre o instinto e a razão.
Nas obras de arte, o rosto dos Centauros traz
geralmente a marca da tristeza. Eles simbolizam a concupiscência carnal, com
todas as suas brutais violências, e que torna o homem semelhante às bestas
quando não é equilibrada pela força espiritual. São a espantosa imagem da dupla
natureza do homem – uma, bestial, e a outra, divina. São a antítese do
cavaleiro, que amansa e domina as forças elementares, ao passo que os
Centauros. à exceção de um Quirão e de seus irmãos, são dominados pelos
instintos selvagens descontrolados. Também se fez do Centauro a imagem do
inconsciente, de um inconsciente que se assenhoria da pessoa, livra-a dos seus
impulsos e abole a luta interior.
Dicionário de Símbolos, J. C. & A. G.
Quíron, o curador. Fonte: The Interdependence Project. |
Quíron
Um centauro famoso por seu discernimento e pela
amplitude de seus conhecimentos, filho de Cronos e de Fílira, uma oceanide. Seu
físico (metade homem e metade cavalo) devia-se à circunstância de Cronos ter-se
unido a Fílira metamorfoseado em cavalo para engendrá-lo.
Quíron, que era imortal, morava numa gruta situada no
sopé do monte Pelíon, na Tessália, e se distinguia dos demais centauros por sua
benevolência para com os homens.
Além de Aquiles Quíron educou, entre outros, Asclépio
e Jáson, e o próprio Apolo ouviu suas lições, que versavam sobre música, ética,
medicina, caça e guerra.
Quando Heraclés massacrou os centauros, Quíron, que
lutou ao lado do herói, foi ferido casualmente por uma de suas flechas
envenenadas. Quíron recolheu-se à sua gruta, e as dores causadas pelo ferimento
incurável eram tão fortes que ele queria morrer, mas não podia por ser imortal.
Na ocasião Prometeu, que estava acorrentado a um rochedo no monte Cáucaso,
trocou sua condição de mortal pela imortalidade do centauro, que assim se
livrou do sofrimento graças à morte.
Dicionário de Mitologia Grega e Romana, M. da G. K.
Folo
Um centauro da região de Foloe, filho de Sileno e de
uma ninfa dos carvalhos.
Durante a caçada ao javali de Erímanto, Heraclés
encontrou-se com Folom, que o recebeu hospitaleiramente oferecendo-lhe carne
assada enquanto comia carne crua. Heraclés pediu vinho e Folo alegou que lá
havia apenas um odre, pertencente a todos os centauros. O herói disse-lhe que
não havia motivos para temores, mas quando o odre foi aberto os outros
centauros, atraídos pelo odor do vinho, correram para gruta onde morava Folo,
armados de tochas, árvores e até rochedos. Heraclés teve de lutar contra eles,
matando alguns deles.
Enquanto os centauros enterravam seus companheiros
mortos pelo herói, Folo arrancou uma flecha do corpo de um deles e perguntou
como a flecha, tão pequena, podia causar a morte. Nesse ínterim uma flecha o
atingiu e o feriu mortalmente. Heraclés proporcionou-lhe funerais condignos.
Dicionário de Mitologia Grega e Romana, M. da G. K.
Verde
O verde, o valor médio, mediador entre o calor e o
frio, o alto e o baixo, equidistante do azul celeste e do vermelho infernal –
ambos absolutos e inacessíveis – é uma cor tranquilizadora, refrescante, humana. A cada primavera, depois do inverno provar
ao homem de sua solidão e sua precariedade, desnudando e gelando a terra que
ele habita, esta se reveste de um novo manto verde que traz de volta a
esperança e ao mesmo tempo volta a ser nutriz.
O verde está ligado ao raio. É a cor da esperança, da
força, da longevidade (e, por outro lado, também da acidez). É a cor da
imortalidade universalmente simbolizada pelos ramos verdes. O desencadear da
vida parte do vermelho e desabrocha no verde.
O verde – envolvente, tranquilizante, refrescante e
tonificante – é celebrado nos monumentos religiosos erigidos no deserto por
nossos ancestrais. Para os cristãos, a Esperança, virtude teologal, permanece
verde. [...tem uma parte aqui...] No Islã, o verde é, ainda, a cor do
conhecimento, e a do Profeta. Os santos, em sua morada paradisíaca, vestem-se
de verde.
Benéfico, o verde reveste-se portanto de um valor
mítico, dos paraísos verdes dos amores infantis: também verde, como a juventude do mundo, é
a juventude eterna prometida aos Eleitos. A verde Erin, antes de tornar-se o nome de Irlanda, era o da ilha dos
bem-aventurados do mundo celta. Os místicos alemães associam o verde ao branco
para qualificar a Epifania e as virtudes cristãs, a justiça do verde vindo completar a inocência do branco.
Essas maravilhosas qualidades do verde levam a pensar
que essa cor esconde um segredo, que ela simboliza um conhecimento profundo,
oculto, das coisas e do destino. A virtude secreta do verde vem do fato de ele
conter o vermelho, da mesma forma que, usando a linguagem dos hermetistas e dos
alquimistas, a fertilidade de toda obra provém do fato do princípio ígneo –
princípio quente e masculino – animar o princípio úmido, frio, feminino. Em
todas as mitologias, as divindades verdes da primavera hibernam nos infernos
onde o vermelho ctoniano as regenera. Por isso, são exteriormente verdes e
interiormente vermelhas, e seus domínios estendem-se sobre os dois mundos.
Osíris, o verde, foi despedaçado e jogado no Nilo. Ele ressucita graças à magia
de Ísis, a vermelha. É um Grande Iniciado, pois conhece o mistério da morte e
do renascimento. Por isso, preside simultaneamente na terra à renovação da
primavera e, sob a terra, ao julgamento das almas. Perséfone aparece na terra
na primavera, com os primeiros brotos dos campos. No outono volta aos infernos,
aos quais está presa para sempre desde que comeu uma semente de
granada. Essa semente de granada é o seu
coração, parcela do fogo interior da terra que condiciona toda regenerescência:
é o vermelho interno de Perséfone verde.
Na tradição Órfica, o verde é a luz do espírito que
fecundou no início dos tempos as águas primordiais, até então envoltas em
trevas. Para os alquimistas é a luz da esmeralda que penetra os maiores
segredos. A partir disso é possível compreender o ambivalente significado do raio verde: se ele é capaz de tudo atravessar, é
portador tanto de morte quanto de vida. Pois, e é aqui que a valorização do
símbolo se inverte, aos brotos primaveris opõe-se o verde do mofo, da
putrefação – existe um verde de morte, assim como um de vida.
A esmeralda, que é uma pedra papal, é também a de
Lúcifer antes de sua queda. Embora o verde, enquanto medida, fosse o símbolo da razão – os olhos de
Minerva – na Idade Média, tornou-se também o símbolo do irracional e o brasão
dos loucos. Essa ambivalência é igual à de todo símbolo ctoniano: Satanás, num
vitral da Catedral de Chartres, de pele e olhos arregalados verdes.
Mas a nossa época também celebra o verde, símbolo da natureza
naturista, com uma veemência especial
desde que a civilização industrial ameaça essa natureza. Dessa forma, o verde
dos movimentos ecologistas vem acrescentar ao simbolismo inicial desta cor um
tom de nostalgia, como se a primavera da terra fosse desaparecer
inexoravelmente sob uma paisagem de pesadelo de cimento e de aço. Aqui, mais
uma vez percebemos a inversão simbólica subjacente: pois a natureza verde não
foi sempre uma imagem de apaziguadora doçura; a Amazônia, pulmão do mundo, que Uriburu e os movimentos ecologistas
defendem com justa causa, não faz muito tempo era chamada de inferno verde.
Os alquimistas, na sua busca de resolução dos
contrários, talvez tenham ido mais longe do que a nossa imaginação. Definem seu
fogo secreto, espírito vivo e luminoso, como um cristal translúcido, verde, que se funde como a cera; é
ele, diziam, que a natureza utiliza
subterraneamente para todas as coisas que a Arte produz, pois a Arte tem de
limitar-se a imitar a natureza.
Ao interpretar esses dois aspectos essenciais do
verde, cor natureza e fêmea,
os especialistas modernos da comunicação e do marketing concluíram, depois de testes e sondagens, que o verde era a cor
mais calma que existe, uma cor sem
alegria, sem tristeza, sem paixão, que nada exige. O verde é, na sociedade das
cores, o que a burguesia é na dos homens: um mundo imóvel, satisfeito, que mede
os seus esforços e conta o seu dinheiro. É também o verde da justiça de Angelus
Silesius.
A linguagem dos símbolos, ao mesmo tempo viva e
esotérica como a língua verde,
não é feita para fechar portas, mas para abri-las à reflexão. Está intimamente
ligada à vida infinita dos sentimentos e pensamentos, o que a diferencia de
nossas tentativas de trabalho com a psicologia aplicada que atende a algo
finito e preciso. Muitas vezes o que essa profunda língua diz só é percebido a
posteriori, criando, através dos séculos
e das civilizações, diálogos inesperados.
O verde conserva um caráter estranho e complexo, que
provém de sua polaridade dupla: o verde do broto e o verde do mofo, a vida e a
morte. É a imagem das profundezas e do destino.
Dicionário de Símbolos, J. C. & A. G.
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