Correntes de Júpiter. Fonte: Universe Today. |
O
planeta Júpiter
Quando Galileu, um pisciano com ascendente em Leão,
voltou sua luneta para o céu escuro sobre Pádua no inverno de 1610, “guiado por
não sei qual destino”, segundo afirmou, o planeta Júpiter apareceu-lhe com
quatro novas luas jamais vistas antes por homem algum.
A comoção que se seguiu ao anúncio feito por Galileu
de suas descobertas levou alguns comentadores a se perguntarem alto e bom som
como os quatro novos corpos celestes afetariam a astronomia, de um lado, e a
astrologia, de outro.
Logo as estrelas mediceanas foram convocadas como
corroborações astronômicas do ainda impopular sistema heliocêntrico de
Copérnico. Por mostrarem que podiam circular em torno de Júpiter ao mesmo tempo
que Júpiter percorria a sua ronda celestial, os novos satélites tornaram
plausível a ideia de também a Terra mover-se pelo espaço, junto com sua Lua, em
torno do Sol.
A astrologia rompeu com a astronomia nesse momento,
pois seu foco na experiência humana forçou-a a preservar a perspectiva
geocêntrica. Some-se a isso que muitos astrólogos não viram necessidade de
atribuir uma nova esfera de influência às estrelas mediceanas. Pelo contrário,
continuaram a considerar e acatar somente a Lua terrestre – a antiga e familiar
controladora das reações emocionais e das atividades cotidianas.
O mesmo Júpiter que, em 1610, revoluteou como um
pequenino globo na ocular na luneta de Galileu residia, no horóscopo deste, no
signo de Câncer – onde, segundo os astrólogos, o planeta está “exaltado”, isto
é, mais livre para expressar-se através da experiência do indivíduo.
Júpiter assumiu o manto astrológico de benevolência e
prodigalidade em épocas babilônicas, por volta de 1000 a.C. – muito antes de
Sir Isaac Newton (um capricorniano) apreender a sua verdadeira enormidade
física observando a atração que exercia sobre as luas descobertas por Galileu.
Os antigos não tinham como avaliar o tamanho dos planetas ou a distância entre
eles, de modo que o fato de associarem Júpiter a grandeza representa um
mistério para a astronomia e a astrologia compartilharem.
Como condiz com o planeta da expansão, a massa de
Júpiter é maior do que o dobro da massa dos oito demais planetas juntos. Ele
possui 318 vezes a massa da Terra e mil vezes o seu volume. No entanto, o
diâmetro de Júpiter é “apenas” onze vezes maior que o da Terra, pois o gigante
foi se compactando à medida que acrescia, de modo que seu diâmetro expandiu-se
a uma fração das taxas de aumento de sua massa e volume.
Literalmente mundos à parte dos planetas terrestres,
Júpiter imita o Sol tanto em composição como em atitude: é feito quase
exclusivamente de hidrogênio e hélio e reina sobre sua própria réplica do
Sistema Solar, contendo no mínimo sessenta satélites planetários: os quatro
maiores avistados por Galileu e 59 outros descobertos (até agora) desde o raiar
da era de Aquário.
Embora muitas das luas de Júpiter sejam corpos
rochosos, o gigante gasoso em si não possui superfície sólida nem terreno
maciço de espécie alguma. A face que apresenta aos observadores terrestres é
uma extensão puramente climática: cada característica identificável resolve-se
num banco de nuvens, um ciclone, uma corrente de ar, uma descarga elétrica ou
uma cortina de luzes auroreais. Em Júpiter, uma tempestade pode durar séculos e
jamais atingirá terra firme. Não existem mudanças sazonais que rompam os
padrões climáticos, pois o planeta permanece quase ereto sobre seu eixo: sua
inclinação é de apenas 3 graus.
Ventos contrários que sopram para o oriente e para o
ocidente dispõem as nuvens de Júpiter num dossel de listras horizontais. As
correntes atmosféricas que avançam para o leste se alternam com os ventos
alísios que sopram para o oeste, firmando uma dúzia de cinturões escuros e
zonas claras, cada um confinado em sua faixa latitudinal, onde permanecem fixos
ao longo do tempo. Gerações e gerações de observadores de Júpiter se
maravilharam com a persistência e a nitidez dessas divisões.
Um brilho tênue, mas detectável, de radiação
infravermelha escapa por brechas na cobertura de nuvens. É o calor que ainda
subsiste desde o processo original de acreação do planeta e que se eleva
lentamente por convecção do núcleo de Júpiter à medida que o planeta continua a
esfriar e se contrair. Estando a quase 800 milhões de quilômetros do Sol,
Júpiter irradia mais calor do que recebe e isso significa que a maior parte da
energia que impele os ventos jovianos provém do interior do planeta, acrescida
insignificantemente pela débil luz do Sol que chega até lá. A radiância de
Júpiter deu-lhe a reputação de “estrela fracassada”, mas sua temperatura
interna – estimada em quase 9,5 mil graus Celsius – fica muito aquém do calor
interno infernal de 15 milhões de graus que faz o Sol brilhar.
Imagem de Júpiter. Fonte: Space Telescope. |
As vastas e variegadas nuvens, que são tudo que
podemos ver de Júpiter, constituem apenas uma fina camada em torno do planeta –
menos de 1% do seu raio de quase 72 mil quilômetros. Debaixo delas, a atmosfera
vai se tornando mais densa e mais quente, devido ao aumento da pressão, e o
clima, mais e mais estranho. Aqui, o conteúdo de carbono do metano e de outros
gases confinados pode ser esmagado até se transformar em minúsculos diamantes no
céu. Pouco a pouco, os gases deixam de se comportar como gases e se dissolvem
num mar de hidrogênio líquido.
Se descermos uns 8 mil quilômetros nesse ambiente,
onde a pressão chega a ser 1 milhão de vezes superior à norma terrestre, o
hidrogênio líquido torna-se opaco, metálico, fundido e elétrico. De longe, a
maior parte de Júpiter consiste nesse estado exótico de hidrogênio comprimido.
Seu campo magnético, por exemplo, que é 20 mil vezes
mais intenso que o da Terra e se estende até a órbita de Saturno, provém desse
interior de hidrogênio metálico líquido. Um verdadeiro dínamo joviano é criado
no interior do planeta, onde correntes quentes de calor em fuga agitam um
fluido suscetível perpassado por correntes elétricas geradas pela rápida
rotação do astro.
O imenso corpanzil de Júpiter perfaz um giro completo
em pouco menos de dez horas, uma rotação mais rápida do que a de qualquer outro
planeta. Esse colosso honra a memória dos primórdios do Sistema Solar como
disco giratório, e nenhuma das luas que o acompanham têm condições de
desacelerá-lo. Quanto à velocidade de revolução em órbita desse gigante, a
enorme distância do Sol relaxa seu ritmo e acrescenta muitos quilômetros a suas
viagens anuais.
Estando cinco vezes mais distante do Sol do que a
Terra, Júpiter demora um longo ano, equivalente a doze anos terrestres (onze
anos e 315 dias), para orbitar o Sol. Nesse percurso, demora cerca de um ano
terrestre para atravessar cada uma das doze constelações zodiacais.
Na astrologia ocidental, um ou outro planeta “rege” o
signo com o qual possui afinidade natural. Júpiter, de longa data considerado o
planeta mais bem-afortunado, rege Sagitário, o arqueiro, signo dos que nascem
entre meados de novembro e meados de dezembro e que seriam dotados de uma visão
despreconceituosa e honesta. Durante muitos séculos, Júpiter também regeu o
signo de Peixes, cujos nativos, de fevereiro-março (Galileu entre eles), são
mestres da memória e da introspecção. Porém, após a descoberta e a designação
de Netuno, em 1846, o novo planeta foi astrologicamente associado à água e
arrebatou Peixes de Júpiter.
Ao contrário do distante e indistinto Netuno, Júpiter
é um espetáculo de luz dourada a olho nu
no céu noturno. Sua presença é conhecida desde a Antiguidade e, portanto, não é
possível determinar a data de sua descoberta. E, embora o momento do seu
nascimento tenha sido deduzido, o local onde nasceu está possivelmente muito
distante da região onde ele hoje habita.
Astrônomos planetários afirmam que Júpiter formou-se
há 4,5 bilhões de anos a partir de um germe rochoso em uma localização
auspiciosa que o predispôs ao gigantismo. Longe do proto-Sol, o protoplaneta
vagueou pelas extensões geladas da nebulosa primordial, acumulando torrões
glaciais de compostos ricos em hidrogênio, como metano, amoníaco e água. Depois
de atingir rapidamente massa equivalente a dez ou vinte Terras, o jovem Júpiter
incorporou em si os gases leves ainda abundantes na nebulosa e acabou
engordando com todo esse hidrogênio e hélio.
Nenhum mundo pequeno conseguiria reter um invólucro
tão grande de gás; Júpiter o fez graças a sua massa superior e, consequentemente,
a sua gravidade mais intensa. A força de atração de Júpiter, a maior de todos
os planetas, também desvia alguns cometas que passam pelas redondezas, seguindo
trajetórias alongadas em torno do Sol, e força-os a uma órbita joviana. Foi
provavelmente consumindo uma grande quantidade desses cometas que Júpiter
ampliou seus estoques de carbono, nitrogênio e enxofre.
Assim como os alinhamentos planetários num horóscopo
descrevem as possibilidades de uma vida, também as posições relativas das luas
de Júpiter determinaram o destino de cada uma.
Io, a mais próxima, exibe traumas de qualquer ligação
muito íntima. A atração gravitacional de Júpiter submete-a a uma tensão de
marés que mantém o seu interior permanentemente liquefeito e faz com que
verdadeiros chafarizes de fogo e lava sejam lançados sem cessar de seus quase
150 vulcões ativos.
Europa, a segunda mais próxima de Júpiter e o menor
dos satélites galileanos, também mostra sinais de aquecimento interno por
tensão de marés. Todavia, o material que se derreteu em Europa foi
aparentemente gelo, não rocha. Graças à nave Galileo, muitos cientistas hoje
acreditam que um mar salgado, mais volumoso que o Atlântico e o Pacífico
juntos, jaz espremido, como o recheio de um saduíche, entre a superfície
congelada do satélite e suas profundezas rochosas. Acreditam também que essas
águas talvez suportem alguma forma de vida extraterrestre.
Ganimedes, embora maior do que Mercúrio e mais
distante de Júpiter do que Io e Europa, também é vítima de tensão de marés. O
calor interno mantém seu núcleo ferroso parcialmente derretido e é esse
interior condutor convectivo que sustenta o campo magnético da Lua, similar ao
de Júpiter, embora muito menor e muito mais fraco.
Somente Calisto, açoitada e marcada por grandes
impactos no passado, mantém-se ilesa dos efeitos das marés. Calisto fica tão
longe de Júpiter que demora mais de duas semanas para orbitá-lo (Io completa a
revolução em menos de dois dias, Europa em três e Ganimedes em sete). Nada
disso impede que a gigantesca bolha invisível da magnetosfera joviana, que se
estende por milhões de quilômetros pelo espaço e engolfa todas as luas do
planeta, continue girando em sincronia com Júpiter a cada dez horas.
A magnetosfera, avançando sobre as luas,
bombardeia-as com partículas carregadas e arrasta consigo outras partículas
extraídas de suas superfícies.
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