sábado, 20 de dezembro de 2014

O ALVO DO SIGNO DE SAGITÁRIO V


Correntes de Júpiter. Fonte: Universe Today.

O planeta Júpiter

Quando Galileu, um pisciano com ascendente em Leão, voltou sua luneta para o céu escuro sobre Pádua no inverno de 1610, “guiado por não sei qual destino”, segundo afirmou, o planeta Júpiter apareceu-lhe com quatro novas luas jamais vistas antes por homem algum.

A comoção que se seguiu ao anúncio feito por Galileu de suas descobertas levou alguns comentadores a se perguntarem alto e bom som como os quatro novos corpos celestes afetariam a astronomia, de um lado, e a astrologia, de outro.

Logo as estrelas mediceanas foram convocadas como corroborações astronômicas do ainda impopular sistema heliocêntrico de Copérnico. Por mostrarem que podiam circular em torno de Júpiter ao mesmo tempo que Júpiter percorria a sua ronda celestial, os novos satélites tornaram plausível a ideia de também a Terra mover-se pelo espaço, junto com sua Lua, em torno do Sol.

A astrologia rompeu com a astronomia nesse momento, pois seu foco na experiência humana forçou-a a preservar a perspectiva geocêntrica. Some-se a isso que muitos astrólogos não viram necessidade de atribuir uma nova esfera de influência às estrelas mediceanas. Pelo contrário, continuaram a considerar e acatar somente a Lua terrestre – a antiga e familiar controladora das reações emocionais e das atividades cotidianas.

O mesmo Júpiter que, em 1610, revoluteou como um pequenino globo na ocular na luneta de Galileu residia, no horóscopo deste, no signo de Câncer – onde, segundo os astrólogos, o planeta está “exaltado”, isto é, mais livre para expressar-se através da experiência do indivíduo.

Júpiter assumiu o manto astrológico de benevolência e prodigalidade em épocas babilônicas, por volta de 1000 a.C. – muito antes de Sir Isaac Newton (um capricorniano) apreender a sua verdadeira enormidade física observando a atração que exercia sobre as luas descobertas por Galileu. Os antigos não tinham como avaliar o tamanho dos planetas ou a distância entre eles, de modo que o fato de associarem Júpiter a grandeza representa um mistério para a astronomia e a astrologia compartilharem.

Como condiz com o planeta da expansão, a massa de Júpiter é maior do que o dobro da massa dos oito demais planetas juntos. Ele possui 318 vezes a massa da Terra e mil vezes o seu volume. No entanto, o diâmetro de Júpiter é “apenas” onze vezes maior que o da Terra, pois o gigante foi se compactando à medida que acrescia, de modo que seu diâmetro expandiu-se a uma fração das taxas de aumento de sua massa e volume.

Literalmente mundos à parte dos planetas terrestres, Júpiter imita o Sol tanto em composição como em atitude: é feito quase exclusivamente de hidrogênio e hélio e reina sobre sua própria réplica do Sistema Solar, contendo no mínimo sessenta satélites planetários: os quatro maiores avistados por Galileu e 59 outros descobertos (até agora) desde o raiar da era de Aquário.

Embora muitas das luas de Júpiter sejam corpos rochosos, o gigante gasoso em si não possui superfície sólida nem terreno maciço de espécie alguma. A face que apresenta aos observadores terrestres é uma extensão puramente climática: cada característica identificável resolve-se num banco de nuvens, um ciclone, uma corrente de ar, uma descarga elétrica ou uma cortina de luzes auroreais. Em Júpiter, uma tempestade pode durar séculos e jamais atingirá terra firme. Não existem mudanças sazonais que rompam os padrões climáticos, pois o planeta permanece quase ereto sobre seu eixo: sua inclinação é de apenas 3 graus.

Ventos contrários que sopram para o oriente e para o ocidente dispõem as nuvens de Júpiter num dossel de listras horizontais. As correntes atmosféricas que avançam para o leste se alternam com os ventos alísios que sopram para o oeste, firmando uma dúzia de cinturões escuros e zonas claras, cada um confinado em sua faixa latitudinal, onde permanecem fixos ao longo do tempo. Gerações e gerações de observadores de Júpiter se maravilharam com a persistência e a nitidez dessas divisões.

Um brilho tênue, mas detectável, de radiação infravermelha escapa por brechas na cobertura de nuvens. É o calor que ainda subsiste desde o processo original de acreação do planeta e que se eleva lentamente por convecção do núcleo de Júpiter à medida que o planeta continua a esfriar e se contrair. Estando a quase 800 milhões de quilômetros do Sol, Júpiter irradia mais calor do que recebe e isso significa que a maior parte da energia que impele os ventos jovianos provém do interior do planeta, acrescida insignificantemente pela débil luz do Sol que chega até lá. A radiância de Júpiter deu-lhe a reputação de “estrela fracassada”, mas sua temperatura interna – estimada em quase 9,5 mil graus Celsius – fica muito aquém do calor interno infernal de 15 milhões de graus que faz o Sol brilhar.

Imagem de Júpiter. Fonte: Space Telescope.

As vastas e variegadas nuvens, que são tudo que podemos ver de Júpiter, constituem apenas uma fina camada em torno do planeta – menos de 1% do seu raio de quase 72 mil quilômetros. Debaixo delas, a atmosfera vai se tornando mais densa e mais quente, devido ao aumento da pressão, e o clima, mais e mais estranho. Aqui, o conteúdo de carbono do metano e de outros gases confinados pode ser esmagado até se transformar em minúsculos diamantes no céu. Pouco a pouco, os gases deixam de se comportar como gases e se dissolvem num mar de hidrogênio líquido.

Se descermos uns 8 mil quilômetros nesse ambiente, onde a pressão chega a ser 1 milhão de vezes superior à norma terrestre, o hidrogênio líquido torna-se opaco, metálico, fundido e elétrico. De longe, a maior parte de Júpiter consiste nesse estado exótico de hidrogênio comprimido.

Seu campo magnético, por exemplo, que é 20 mil vezes mais intenso que o da Terra e se estende até a órbita de Saturno, provém desse interior de hidrogênio metálico líquido. Um verdadeiro dínamo joviano é criado no interior do planeta, onde correntes quentes de calor em fuga agitam um fluido suscetível perpassado por correntes elétricas geradas pela rápida rotação do astro.

O imenso corpanzil de Júpiter perfaz um giro completo em pouco menos de dez horas, uma rotação mais rápida do que a de qualquer outro planeta. Esse colosso honra a memória dos primórdios do Sistema Solar como disco giratório, e nenhuma das luas que o acompanham têm condições de desacelerá-lo. Quanto à velocidade de revolução em órbita desse gigante, a enorme distância do Sol relaxa seu ritmo e acrescenta muitos quilômetros a suas viagens anuais.

Estando cinco vezes mais distante do Sol do que a Terra, Júpiter demora um longo ano, equivalente a doze anos terrestres (onze anos e 315 dias), para orbitar o Sol. Nesse percurso, demora cerca de um ano terrestre para atravessar cada uma das doze constelações zodiacais.

Na astrologia ocidental, um ou outro planeta “rege” o signo com o qual possui afinidade natural. Júpiter, de longa data considerado o planeta mais bem-afortunado, rege Sagitário, o arqueiro, signo dos que nascem entre meados de novembro e meados de dezembro e que seriam dotados de uma visão despreconceituosa e honesta. Durante muitos séculos, Júpiter também regeu o signo de Peixes, cujos nativos, de fevereiro-março (Galileu entre eles), são mestres da memória e da introspecção. Porém, após a descoberta e a designação de Netuno, em 1846, o novo planeta foi astrologicamente associado à água e arrebatou Peixes de Júpiter.

Ao contrário do distante e indistinto Netuno, Júpiter é um  espetáculo de luz dourada a olho nu no céu noturno. Sua presença é conhecida desde a Antiguidade e, portanto, não é possível determinar a data de sua descoberta. E, embora o momento do seu nascimento tenha sido deduzido, o local onde nasceu está possivelmente muito distante da região onde ele hoje habita.

Astrônomos planetários afirmam que Júpiter formou-se há 4,5 bilhões de anos a partir de um germe rochoso em uma localização auspiciosa que o predispôs ao gigantismo. Longe do proto-Sol, o protoplaneta vagueou pelas extensões geladas da nebulosa primordial, acumulando torrões glaciais de compostos ricos em hidrogênio, como metano, amoníaco e água. Depois de atingir rapidamente massa equivalente a dez ou vinte Terras, o jovem Júpiter incorporou em si os gases leves ainda abundantes na nebulosa e acabou engordando com todo esse hidrogênio e hélio.

Nenhum mundo pequeno conseguiria reter um invólucro tão grande de gás; Júpiter o fez graças a sua massa superior e, consequentemente, a sua gravidade mais intensa. A força de atração de Júpiter, a maior de todos os planetas, também desvia alguns cometas que passam pelas redondezas, seguindo trajetórias alongadas em torno do Sol, e força-os a uma órbita joviana. Foi provavelmente consumindo uma grande quantidade desses cometas que Júpiter ampliou seus estoques de carbono, nitrogênio e enxofre.

Assim como os alinhamentos planetários num horóscopo descrevem as possibilidades de uma vida, também as posições relativas das luas de Júpiter determinaram o destino de cada uma.

Io, a mais próxima, exibe traumas de qualquer ligação muito íntima. A atração gravitacional de Júpiter submete-a a uma tensão de marés que mantém o seu interior permanentemente liquefeito e faz com que verdadeiros chafarizes de fogo e lava sejam lançados sem cessar de seus quase 150 vulcões ativos.

Europa, a segunda mais próxima de Júpiter e o menor dos satélites galileanos, também mostra sinais de aquecimento interno por tensão de marés. Todavia, o material que se derreteu em Europa foi aparentemente gelo, não rocha. Graças à nave Galileo, muitos cientistas hoje acreditam que um mar salgado, mais volumoso que o Atlântico e o Pacífico juntos, jaz espremido, como o recheio de um saduíche, entre a superfície congelada do satélite e suas profundezas rochosas. Acreditam também que essas águas talvez suportem alguma forma de vida extraterrestre.

Ganimedes, embora maior do que Mercúrio e mais distante de Júpiter do que Io e Europa, também é vítima de tensão de marés. O calor interno mantém seu núcleo ferroso parcialmente derretido e é esse interior condutor convectivo que sustenta o campo magnético da Lua, similar ao de Júpiter, embora muito menor e muito mais fraco.

Somente Calisto, açoitada e marcada por grandes impactos no passado, mantém-se ilesa dos efeitos das marés. Calisto fica tão longe de Júpiter que demora mais de duas semanas para orbitá-lo (Io completa a revolução em menos de dois dias, Europa em três e Ganimedes em sete). Nada disso impede que a gigantesca bolha invisível da magnetosfera joviana, que se estende por milhões de quilômetros pelo espaço e engolfa todas as luas do planeta, continue girando em sincronia com Júpiter a cada dez horas.

A magnetosfera, avançando sobre as luas, bombardeia-as com partículas carregadas e arrasta consigo outras partículas extraídas de suas superfícies.

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