Sagitta. Fonte: Astrology King. |
Significação
A inteligência é liberada quando os poderes naturais
são usados de um modo humano pelo ser humano individualizado em seu esforço por
alcançar a vitória sobre seu meio ambiente. Quando, em etapa posterior de seu
desenvolvimento, o homem enfrenta as provas da mutualidade e da
responsabilidade, o poder integrador do pensamento faz nascer uma nova fase de
inteligência, a “significação”.
Significação é uma expressão do sentido de
mutualidade quando confrontada com a solução de problemas e conflitos causados
pelo fato de alguém assumir e desempenhar responsabilidades.
O ser individual precisa sempre provar-se através do
uso que faz das energias naturais ou das riquezas sociais. O relacionamento
deve, igualmente, demonstrar o próprio valor pelos resultados de uma atividades
cooperativa. O amor ganha valor e significação mediante a utilização de seus
frutos, sejam eles psicológicos ou fisiológicos. A sociedade humana demonstra
sua grandeza na civilização que se baseia no tipo característico de
relacionamentos humanos que lhe constituem a trama. Para não ser destrutivo, um
relacionamento amoroso ou uma parceria comercial tem que ser produtivo.
Abundância de frutos, porém, não é o bastante. O valor de qualquer frutificação
depende da significação que se lhe dê. Os fatores de valor e significado são
correlatos essenciais ao fato efetivo da mutualidade produtiva.
Todo relacionamento pode e deve ser produtivo. O
propósito da produtividade, o caráter dos produtos, o uso que se lhes dê, o
modo como os problemas de produção são tratados e suas consequências
enfrentadas, a maneira pela qual eles satisfazem ou deixam de satisfazer as
necessidades dos produtores e da sociedade em que participam – todos esses
fatores precisam ser considerados. Eles dão significação e valor ao
relacionamento, ou o condenam como não tendo nexo nem valor.
Se não puder dar um sentido válido a todo
relacionamento de que participe, tal relacionamento se torna destrutivo. Todo
relacionamento improdutivo é mais ou menos responsável pela destruição da
integridade dos eus através dele relacionados. Alguns relacionamentos são
produtores de fatores positivamente destrutivos.
A inteligência na personalidade é uma promessa de
valor e de significado nos relacionamentos que essa pessoa urdirá sobre a trama
da vida social e cultural; mas só uma promessa! Significação como essa só pode
originar-se da experiência efetiva de relacionamento – relacionamento não só
com outro eu, mas também com objetos e entidades sociais de um tipo ou de outro.
Na esfera do eu individual, a inteligência é a
definição dos limites da individualidade e do pensar que busca exteriorizar e
dar forma à compreensão inata de “eu sou”, por efeito de proporcionar
características particulares e relativamente exclusivas ao ego. Na esfera da
personalidade concreta, a inteligência se manifesta como habilidade técnica,
como adequação dos meios aos fins. Na esfera do relacionamento na mutualidade,
a inteligência renasce como entendimento.
Entender é tomar consciência de significado. Não há
necessidade de entendermos nosso próprio eu, isto é, nossa “existencialidade”
essencial; a necessidade é de autocompreensão através de atos característicos
dentro dos limites de nossa própria capacidade de usar poder em termos de nossa
própria natureza individual.
Entender uma situação ou uma ideia é “com-preender”
todos os fatores levados a uma condição de relação operativa e produtiva (ou
inoperante e estéril) na situação ou ideia. Esses fatores podem ser imagens e
conceitos, ou personalidades e suas palavras. “Com-preensão” é literalmente
“pegar junto” esses muitos fatores e definir o caráter, a qualidade, o
propósito e os resultados finais de sua conjuntividade.
Um conceito, uma lei científica, um princípio
jurídico têm a função específica de estabelecer formas significativas e válidas
de relacionamento entre percepções, imagens, experiências e direitos de um tipo
ou de outro. Uma religião, igualmente, dá sentido ao relacionamento entre seus
adeptos e uma ou várias Pessoas cósmicas ou transcendentes; e como base de
sanções para a conduta ética, dá significação e valor a formas específicas de
mutualidade. Num como noutro caso, estabelece limites aos relacionamentos que
acredita estar dentro de seu campo; e a lógica estabelece limites à associabilidade
de declarações e de conceitos.
Definir é estabelecer limites. Em alguns casos, os
limites podem ser impostos a priori por
uma autoridade externa ao relacionamento que se esteja definido. Isso leva ao
formalismo, à artificialidade, à tirania política ou religiosa, ao fascismo. Em
outros casos, os limites são estabelecidos em termos da capacidade, do
propósito e da função intrínsecos a todos os fatores do relacionamento
considerado como um todo. Este é o único caminho para o entendimento.
Compreender é tomar todos os fatores conjuntamente e
assim definir o caráter de sua relação; mas entender é, na verdade, “estar sob”
essa reunião de elementos e suportar-lhes o peso. Não só contemplar e avaliar
objetivamente, como que à distância; mas experimentar mediante sentimento
efetivo e pressão direta. O processo do entendimento é interno; a compreensão
pode permanecer como processo externo. O juízo intelectual com base em fórmulas
apriorísticas de significação e de valor é a sombra negativa do entendimento, assim
como a intelectualidade é a sombra da inteligência.
Só o entendimento constitui um verdadeiro fundamento
da significação; e não pode haver entendimento de “segunda-mão” ou vicário, sem
que ele perca todo o direito de se chamar “entendimento”. Seja como for, o real
entendimento não pode ser simplesmente uma operação intelectual, formalista e
indiferentemente objetiva. Ele está condicionado pelo relacionamento efetivo e
pela identificação com o relacionamento como um todo. Entretanto, essa
identificação só pode ser temporária. O eu que entende deve passar por esse
estágio de identificação e emergir vitorioso. O sentido é o prêmio da vitória.
A prova da significação é dirigida à determinação do
homem de não se contentar com exterioridades e ilusões, mas, em vez disso,
buscar o próprio núcleo de todo relacionamento – pessoal e social, coletivo e
universal – até alcançar-lhe o sentido essencial.
A lei deve ser considerada uma expressão de relação
significativa e todo-abrangente, para pertencer à esfera do significado e do
entendimento, mais do que à do formalismo e da convenção intelectual, ou de
governo arbitrário exercido por um ego que deu as costas ao desafio da
mutualidade.
A lei lida com relacionamentos; e verdadeiros
relacionamentos só podem existir com base na mutualidade. Onde houver
mutualidade, a lei se manifesta como harmonia – como o “vínculo de comunhão” de
eus em termos de participação criativa nas atividades de um todo maior, um
organismo social ou cósmico. Onde não há harmonia nem entendimento nem
percepção de significação, a lei só pode ser uma máscara para a tirania pessoal
ou oligárquica, com ou sem as formalidades da chamada democracia.
A prova da significação é o desafio a todo indivíduo
e a toda associação – seja no matrimônio ou nos negócios, na política ou na
esfera cultural – a não aceitar nenhuma participação que não possa ser
significativamente definida quanto a seu caráter, processo e finalidade. Ser
significativo é requisito de todo relacionamento. A significação é a coroa e a alma
da mutualidade; a harmonia criativa, a formulação de um amor eficaz e
produtivo.
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