terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A ESTRUTURA DO SIGNO DE CAPRICÓRNIO IV


Ilustração de Saturno. Fonte: Pinterest, de Cuz-William Castillo.

O simbolismo da cor Preto

Simbolicamente, é com mais frequência compreendido sob seu aspecto frio, negativo. Cor oposta a todas as cores, é associada às trevas primordiais, ao indiferenciamento original.

Conforme os povos localizem seu inferno e o mundo subterrâneo no Norte ou no Sul, uma ou outra dessas direções é considerada preta. Instalado, portanto, embaixo do mundo, o preto exprime a passividade absoluta, o estado de morte concluído e invariante, entre estas duas noites brancas, em que se efetuam, sobre seus flancos, as passagens da noite ao dia e do dia à noite.

O preto é cor de luto; não como o branco, mas de uma maneira mais opressiva. O luto branco tem alguma coisa de messiânico. Indica uma ausência destinada a ser preenchida, uma falta provisória. O luto preto, por sua vez, é, poder-se-ia dizer, o luto sem esperança. Como um nada sem possibilidades, como um nada morto depois da morte do Sol, como um silêncio eterno, sem futuro, sem nem mesmo a esperança de um futuro, ressoa interiormente o preto, escreve Kandinsky. O luto negro é a perda definitiva, a queda sem retorno no Nada: o Adão e a Eva do Zoroastrismo, enganados por Arimã, vestem-se de preto, quando são expulsos do Paraíso.

Cor da condenação, o preto torna-se também a cor da renúncia à vaidade deste mundo, daí os mantos pretos que constituem uma proclamação de fé no cristianismo e o Islã: o manto preto dos mawlawyyas – os dervixes rodopiantes – representa a pedra sepulcral. Quando o iniciado o tira para começar sua dança giratória, aparece vestido com uma roupa branca que simboliza seu renascimento no divino, isto é, na Realidade Verdadeira: entrementes as trombetas do julgamento soaram.

No Egito, segundo Horapollon, uma pomba preta era o hieróglifo da mulher que permanece viúva até sua morte. Esta pomba preta pode ser considerada como um eros frustrado, a vida negada. Conhece-se a fatalidade manifestada pelo navio de velas negras, desde a epopeia grega até a de Tristão.

Mas o mundo ctônico, o subterrâneo da realidade aparente, é também o ventre da terra, onde se efetua a regeneração do mundo diurno. Se é preto como as águas profundas, é também porque contém o capital de vida latente, porque é o grande reservatório de todas as coisas: Homero vê o oceano como preto. As Grandes Deusas da Fertilidade, essas velhas deusas-mães, são com frequência pretas em virtude de sua origem ctônica: as Virgens negras acompanham assim as Ísis, as Áton, as Deméter e as Cibele, as Afrodite negras.

As cores de A Morte, Arcano 13 do Tarô, são significativas. Essa morte iniciatória, prelúdio de um verdadeiro nascimento, ceifa a paisagem da realidade aparente – paisagem das ilusões perecíveis – com uma foice vermelha, enquanto que a própria paisagem está pintada de preto. O instrumento da morte representa a força vital, e sua vítima, o nada; ceifando a vida ilusória, o Arcano 13 prepara o acesso à vida real. O simbolismo do número confirma aqui o da cor; 13, que sucede a 12, número do ciclo terminado, introduz uma nova partida, fomenta uma renovação.

Na linguagem heráldica, a cor preta é chamada sable (palavra francesa que significa “areia”). O sable significa prudência, sabedoria e constância na tristeza e nas adversidades. Esse preto, segundo o pensamento de Mevlana, é a cor absoluta, a conclusão de todas as outras cores, superadas como tantos degraus, para se atingir o estado supremo do êxtase, onde a Divindade aparece ao místico e o ofusca.


Mas o preto é também a terra fértil, receptáculo do “se o grão não morrer” do Evangelho, esta terra que contém os túmulos, tornando-se assim a morada dos mortos e preparando o seu renascimento. É por isso que as cerimônias do culto de Plutão, Deus dos Infernos, compreendiam sacrifício de animais pretos, ornados com tirinhas da mesma cor. Esses sacrifícios só podiam ser feitos nas trevas, e a cabeça da vítima devia estar virada para a terra.

O preto evoca também as profundezas abissais, os precipícios oceânicos (num mar sem fundo, numa noite sem lua), o que levava os antigos a sacrificar touros negros a Netuno.

Enquanto evocador do nada e do caos, isto é, da confusão e da desordem, o preto é a obscuridade das origens; precede a criação em todas as religiões. Para a Bíblia, antes que a luz existisse, a terra era informe e vazia, as trevas recobriam a face do Abismo. Para a mitologia greco-latina, o estado primordial do mundo era o Caos. O Caos engendrou a Noite que se casou com seu irmão Érebo: tiveram um filho, o Éter. Assim, através da Noite e do Caos, começa a penetrar a luz e a criação: o Éter. Mas, entrementes, a Noite havia engendrado, além do Sono e da Morte, todas as misérias do mundo, como a pobreza, a doença, a velhice, etc.

O preto, como cor indicativa da melancolia, do pessimismo, da aflição ou da infelicidade, reaparece a todo minuto na linguagem cotidiana (pensamentos sombrios, ideias negras, humor negro). Os estudantes ingleses chamam de Black Monday a segunda-feira em que recomeçam as aulas, e os romanos marcavam com uma pedra preta os dias nefastos.

Enquanto imagem da morte, da terra, da sepultura, da travessia noturna dos místicos, o Preto está também ligado à promessa de uma vida renovada, assim como a noite contém a promessa de aurora, e o inverno a da primavera. Sabemos, além disso, que, na maioria dos Mistérios antigos, o participante devia passar por certas provas à noite ou submeter-se aos ritos num subterrâneo obscuro. Assim também, hoje em dia, os religiosos e religiosas morrem para o mundo num claustro.

Do ponto de vista da análise psicológica, nos sonhos diurnos ou noturnos, bem como nas percepções sensíveis no estado de vigília, o preto é considerado como a ausência de toda cor, de toda luz. O preto absorve a luz e não a restitui. Evoca, antes de tudo, o caos, o nada, o céu noturno, as trevas terrestres da noite, o mal, a angústia, o inconsciente e a Morte.

Nos sonhos, a aparição de animais pretos, de negros ou de outras personagens escuras mostra que entramos em contato com nosso próprio Universo instintivo primitivo que é preciso esclarecer, domesticar e cujas forças devemos canalizar para objetivos mais elevados.

Dicionário de Símbolos, J. C. & A. G.

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