O planeta Saturno. Fonte: Calvin Observatory. |
Integridade
Pessoal
No solstício de inverno, a tendência para a ação
coletiva e para a socialização de sentimentos e de pensamentos atinge o seu
ápice. A civilização – isto é, a organização de generalidades e de valores
universais – triunfa. Ela é exaltada no cidadão comum dos vastos organismos
sociais – cidades, estados e confederações – em que as mentes e as raças se
fundem e as culturas separadas se perdem.
A civilização promove a padronização e a satisfação
dos desejos, impulsos e interesses comuns à maioria dos homens. A
universalidade de pensamento e de comportamento que possa haver é obtida à
custa de uma indiferença voltada para as distinções e contrastes que estimulam
o caráter e o uso de poderes criativos, ou mesmo à custa de uma eficiente
supressão dessas distinções e desses contrastes. A natureza transferível de
todos os valores civilizados, bem que ajustando-os teoricamente a todas as
pessoas e a todas as épocas, impregna os produtos da civilização com o
sentimentalismo desenxabido das canções populares e dos filmes
cinematográficos.
Com o solstício de inverno, o signo zodiacal de
Capricórnio tem início. Ele é tradicionalmente um símbolo de ação política: mas
também testemunha o nascimento de Cristo. Em termos do simbolismo zodiacal, a
ordem “psicomental” tem sua origem no solstício de verão e no signo de Câncer,
governado pela Lua; a ordem “espiritual” segue-se durante o período do Natal
desde o signo de Capricórnio. Ambos os tipos de atividade operam durante todo o
ano, mas com graus de intensidade variáveis e compensatórios. Da mesma forma,
em cada um dos doze tipos da “natureza humana”, definidos pelas características
básicas dos doze signos do zodíaco, vemos que os traços suscitados pelo
espírito e psicoativos interatuam, e de maneiras contrastantes buscam expressão
mais exterior no comportamento orgânico ou social.
O homem, em seu ser psicomental, está incessantemente
lutando rumo a formas de organização mais inclusivas; entretanto, à medida que
o faz, ele sempre abarca muito mais do que consegue efetivamente assimilar e
integrar, e torna-se vítima das energias despertadas de suas profundezas ainda
indiferenciadas ou por longo tempo reprimidas. A organização torna-se grande,
sobrecarregada de generalizações intelectuais e de regulações padronizadas. Ela
absorve massas de elementos que só superficialmente correspondem ao ritmo
integrador da mente organizadora. Para contestá-los, mais regras, mais
generalidades, mais fórmulas são produzidas, que não se aplicam a nada em
particular porque precisam aplicar-se a tudo em geral. A elite governante
ultraconsciente perde o contato real com as massas sem raízes, sublevadas e
reivindicatórias, mas fundamentalmente inconscientes; ao desassossego destas
últimas, aquela não pode dar nenhuma solução vital e realmente integradora – só
paliativos.
Esse é então o momento do maior desafio ao espírito.
Um novo logos, Uma nova
“palavra de virtude”, um novo sentido criativo, uma nova qualidade de
humanidade deve ser projetada no caos fervilhante daquelas partes da natureza
humana e da sociedade que não podem se tornar efetivamente integradas pela
“forma de vida” ultra-expandida e ultrageneralizada que coletivamente constitui
o estado do império universal. O espírito deve atuar como um novo impulso e
impregnar as massas com um organismo desintegrador. Ela precisa estabelecer um
novo ritmo, uma nova era; e, para tanto, precisa incorporar-se naquelas poucas
porções da natureza humana – naqueles poucos indivíduos que vivem na sociedade
ultracivilizada – que possam responder a essa descida de poder e visão
fecundantes. Cristo e seus seguidores nascem no Império Romano dos Césares.
Hoje, o mundo do homem representa, uma vez mais, um
caos de culturas e de entidades políticas e religiosas em processo de
desintegração. A mentalidade anglo-americana – com suas raízes europeias e
particularmente francesas – tem produzido um estilo de vida, uma espécie típica
de estrutura política (uma Constituição universalmente copiada, etc.), um
modelo democrático de direitos e de cultura. No entanto, essa mentalidade e
seus produtos não têm, em si mesmos, o poder de integrar o atual caos que
prevalece em todo o mundo. A integração, que precisa se tornar global nos
séculos ainda por vir, só pode se originar por um ato do criativo espírito
divino, por um novo logos que
enfoque uma nova potencialidade do Homem, ativando novas faculdades.
O fato de ser isto sempre e eternamente assim é a
grande lição que a humanidade, e particularmente o tipo humano individual de
Capricórnio, têm que aprender. Capricórnio simboliza o estágio de maturidade
das formas sociais de vida coletiva, o produto último da mente humana que
alcançou pleno desenvolvimento – e o imperialismo, mitigado ou não,
inevitavelmente associado com a maturidade de um indivíduo – através de expansão,
generalização, padronização, legislação e racionalização coletivas (todas
essas, características de Sagitário). Em Capricórnio, a tendência que se
iniciou com Câncer, e foi pressentida nos signos vernais do zodíaco, alcança
sua mais plena expressão.
O Império Romano é o símbolo tradicional do
cumprimento dessa tendência. Todo tipo de homem capricorniano abriga em si um
César Augusto – se não um Nero! – em potencial. Dentro dele esconde-se a
máquina política romana de procônsules e o poder das legiões romanas buscando
sujeitar um mundo bárbaro e em desintegração – o passado e o porvir.
A todo capricorniano e a seus conflitos pode surgir,
na noite de sua alma, um Cristo – a luz que, ela só, integra o caos do mundo.
Esse dom do espírito, esse Cristo-logos, representa a resposta essencial à necessidade de uma humanidade cega
pela adoração da maior e mais eficiente máquina política, estado ou estrutura
federal que a civilização pode produzir em qualquer tempo. Entretanto, por
muito cego que esteja, o homem continua ansiando em suas profundezas por aquilo
que nenhum modelo de organização social e nenhuma sociedade planejada pode
oferecer: a compreensão clara por parte de todo indivíduo, e dentro de cada
indivíduo, de sua identidade essencial.
Essa fé é uma ilusão. As instituições por si sós não
levarão à Europa, à Asia – e, como recentemente temos tido que entender, a nós
próprios americanos –, a paz e a felicidade criativa que os homens necessitam
desesperadamente, porque elas não podem fazer isto. O que é preciso é uma nova difusão do espírito, um novo
despertar do poder espiritual da integridade pessoal dentro dos corações de um
número incontável de indivíduos, uma recusa contagiante a confiar em fórmulas
ou em instituições, ou em quaisquer sistemas de pensamento e em quaisquer
modelos tradicionais. É certo que há sistemas de vida e processos sociais que
permitirão, mais que outros, a expressão
mais exterior e coletiva do espírito da integridade pessoal. Todos os homens
devem estudar e assimilar esses sistemas. Nunca devem tê-los como coisa líquida
e certa.
O homem é um fabricante de formas. Mas essas formas
são prisões, sem o poder animador do espírito. Elas podem compelir; mas não
integrarão. Elas podem destruir o passado decadente – como uma bomba atômica,
Hiroshima, cidade de luxúria e decadência política. Elas não podem insuflar a
vida de amanhã em culturas marcadas pelo anacronismo. Nossa fé não deve ser
colocada em processos ou em instituições; mas sim no contágio espiritual de
nosso exemplo. As nações farão da democracia um grande bem, na proporção em que
criarem suas próprias formas de viver e se recusarem a aceitar as nossas; e
elas procurarão avidamente emular nossa democracia, na medida em que nós
próprios vivamos a democracia em termos de integridade e responsabilidade
pessoal.
Tríptico Astrológico, D. R.
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