sábado, 7 de fevereiro de 2015

A ESTRUTURA DO SIGNO DE CAPRICÓRNIO VIII


Cruz. Fonte: Blog Timonha notícias.

Reincorporação

O problema com que se defronta todo indivíduo ao procurar vencer os estreitos limites, as prevenções e a exclusividade de uma atitude egocêntrica ou centrada no ego só pode ser compreendido em sua verdadeira natureza se a validade dos próprios termos autocentrado e egocêntrico for posta em dúvida, e se o ego (ou eu pessoal) for entendido como sendo, na prática e em concreta realidade, uma estrutura psíquica, mais do que um sujeito misterioso.

O uso familiar de adjetivos como egocêntrico e autocentrado, juntamente com a definição de Carl Jung do ego como o “centro do meu campo de consciência”, tende quase inevitavelmente a fazer o ego parecer um ponto ou um núcleo; mais ou menos como um rei todo-poderoso e autocrático é o centro de seu estado. Há um “campo de consciência” e esse campo tem um governo central. O elemento de estrutura, se for considerado, seria então referido ao campo de consciência (isto é, o modo típico em que a pessoa pensa, sente, responde às sensações e aos desafios da vida cotidiana). Essa estrutura psíquica seria o resultado da atividade e da vontade do ego, mais ou menos como a “lei do reino” constitui a expressão das decisões e da vontade do rei autocrático, que é a única autoridade suprema em “sua” jurisdição.

O conceito acima referido, porém, implica muito do que hoje pareceria uma psicologia antiquada e ingênua. Se o rei governa o reino e lhe estrutura as múltiplas atividades por decretos de toda ordem, o que é que governa o rei? O que o faz querer isto mais que aquilo? O que é que condiciona suas escolhas e decisões?

A resposta é que o rei faz as novas leis, mas as velhas leis fazem o rei. As tradições, os costumes ancestrais, os modelos religiosos e culturais básicos e as “Imagens primordiais” da nação de que ele se originou, como um filho condicionado por treinamento especial para tornar-se rei – todos esses fatores estruturam a consciência do rei, e desse modo lhe determinam basicamente, ainda que não exclusivamente, as decisões. Na maioria dos casos, um rei é o produto da tradição e do estilo de vida nacionais muito mais do que legislador que origina uma nova tradição ou estrutura de comportamento social. Quando um rei, como o faraó egípcio Akh-na-ton, procura alterar completamente a estrutura social-religiosa de seu reino, a tentativa tem mais probabilidades de malograr, ou de ter vida curta, do que de ser bem-sucedida; os velhos hábitos se impõem, demonstrando que têm mais fundamento e poder que o próprio rei.

Outro enfoque da questão levará às mesmas conclusões. A criança recém-nascida se compreende primeiramente como “eu” ou como “José”? A julgar pela experiência, a criança costuma falar primeiramente na terceira pessoa, quando se refere a si própria: “José fez isso, José quer aquilo”, antes de enunciar bem claro “Eu quero” e mais ainda “Eu sou”. Aliás, a sensação claramente consciente de “eu sou”, independentemente da qualificação determinativa e condicionante “José”, o nome da pessoa, constitui a meta de um processo de desenvolvimento espiritual muito longo e bastante difícil, e não o seu início.

O ego, como uma forma particular de ser, é um fator saturnino, pois Saturno é o senhor de todas as formas particulares de estrutura que se definem por suas diferenças de todas as outras formas; portanto, por um princípio de exclusão. “José da Silva” significa a soma total das diferenças de uma pessoa em relação a todos os outros seres humanos. E essa soma de diferenças é estabelecida – não só socialmente, mas também na consciência de José da Silva, por seu “nome”. Nas modernas sociedades, ela normalmente é estabelecida em dois níveis por dois nomes: um de família e outro pessoal. O primeiro tem por fim estabelecer diferenças coletivas (de raça, família, etc.); o outro, diferenças pessoais (individualidade).

Quando o homem diz a si mesmo ou a outros: “Eu sou o José da Silva”, o que ele quer dizer realmente não é “Eu”, e sim que ele é “José da Silva”. José da Silva é o ego, com suas diferenças individuais e de grupo estruturadas. O nome é o símbolo do ego. Jung sabia disso muito bem quando escreveu: “Por ego entendo um complexo de representações que... parece possuir um grau muito elevado de continuidade e identidade.” Ele falou de “complexo de ego”; e todo complexo é uma estrutura psíquica (em nosso sentido do termo estrutura). Mas o complexo de ego não é, como Jung aduziu, “o centro do meu campo de consciência” do mesmo modo como não é o fator estrutural na consciência. Por haver estrutura e ordem no campo de uma pessoa normalmente amadurecida, o sentido de identidade estrutural permanente aparece. Esse sentido de identidade estrutural permanente é o que o homem comum hoje em dia conhece como o sentido de “eu”.


Na verdade, o ego representa uma condição de constante envolvimento na tarefa de manter a estrutura do campo da consciência intacta contra a pressão de fatores internos e externos que procuram alterar essa estrutura, assim como o Estado procura eternamente implementar suas leis e regulamentos e proteger suas fronteiras e seu prestígio.

O ego é, de fato, o equivalente do Estado nos domínios da personalidade. O Estado pode ser controlado por um rei ou por qualquer outro tipo de símbolo oficial de autoridade (como a Constituição dos Estados Unidos); o ego pode desenvolver ou deixar de desenvolver um sentido de gerir ou governar o sentimento de “eu”. Em qualquer dos casos, o fator essencial permanece sendo o Estado como um todo; e esse Estado, sendo um fator estrutural, se encontra em ação em toda parte. O que se considera uma pessoa egocêntrica e muito voluntariosa é muito parecido com um Estado policialesco. O fator estrutural domina e tende a reprimir toda parte do campo da consciência, regulando toda função ou lançando todo pensamento ou sentimento não desejados para as trevas exteriores do inconsciente – para o exílio ou para o campo de concentração, conforme o caso. O Estado policialesco em geral tem um ditador oficial; mas esse ditador é um símbolo e um sintoma muito mais do que uma causa – salvo em casos especiais que logo estudaremos. Ele se transforma, seja como for – quando não o tenha sido desde o princípio – num escravo das estruturas que ele mesmo desenvolveu e, de fato, que precisou desenvolver.

A pessoa comum não pode ser comparada com um Estado totalitário e policialesco. Ela é, em geral, um todo muito mal-integrado, em que não há nenhum poder central efetivo forte. Nela, as necessidades ou impulsos psíquicos (comparáveis a “quotas especiais”, monopólios, cartéis, organizações eclesiásticas, sindicatos, etc.) lutam pela posição de autoridade central. O “eu” que na verdade é indicado na declaração “eu sou o José” é mais um símbolo do que uma realidade experimentada. Para o psicólogo, é o alvo obscuramente adivinhado de um processo de integração pessoal e talvez de ulterior transfiguração; ao passo que para o esoterista é a imagem refletida de uma realidade transcendente.

O eu no enunciado “eu sou José da Silva” não é a semente de Deus. Na maioria dos casos será, quando muito, a vaga sensação de uma estabilidade e permanência interior obscuramente pressentidas. É uma intuição incerta do que poderia ser a divindade no cerne das experiências mais elevadas e mais integradas no viver real de José da Silva. O objetivo principal de todos os ensinamentos verdadeiramente espirituais é fortalecer essa obscura intuição-sentimento em consequência de estabelecê-la como um conceito, como um corolário intelectual da ideia a ela relacionada da existência de Deus. “Deus é; eu sou” – estes são enunciados correlatos. Se não há nenhum “Deus” universal, o “eu” espiritual existiria em contraste absoluto e essencialmente sem significado com um universo estranho e incompreensível; e se não há nenhum “eu” como uma expressão potencialmente completa da divindade, a vida humana é uma tragédia insuportável que não leva a coisa alguma.

Em termos de simbolismo astrológico, a Estrela, que ainda é para o homem na Estrada Iluminada um fator transcendental, é um foco ou uma lente através da qual o ser universal de Deus radia como luz e como poder. Quando os passos anteriormente definidos sobre a Estrada Iluminada tenham sido dados eficazmente, a sensação amorfa de “eu” dentro da consciência de José da Silva transforma-se numa percepção cada vez mais clara de um “Ele” formado. A imagem de Deus é vista dentro da consciência, transportada, por assim dizer, pelo Raio da Estrela.

Para o espírito universal e que tudo penetra, tudo quanto acontece uma vez aconteceu uma vez por todas num mundo “intemporal”. No entanto, para todo homem que funcione conscientemente num mundo de ciclos e duração, o evento do nascimento divino – a incorporação do espírito na semelhança de Deus – é uma potencialidade em processo de se tornar realidade.

E quanto ao José da Silva? Ele se torna mãe do Deus vivente que está se agitando dentro de sua consciência. Um mistério está sendo celebrado dentro dele; um estranho e em geral desconcertante ritual de gestação. José da Silva agora hesita ao dizer “Eu sou o José da Silva”. Poderá ele ao menos dizer: “Eu sou”?

Para ser plenamente experimentado, o “eu” teve que ser separado completamente da qualificação “José da Silva”. Um processo negativo: um “não isto, não aquilo...” relativo ao condicionamento terreno, à hereditariedade, a pressões ambientais, a necessidades físicas – na verdade, a todo poder exercido pelo ego estrutural e sua constante concentração sobre o problema de manter essa estrutura da personalidade sob todas as circunstâncias possíveis ou sua prestação de atenção a esse problema. O indivíduo José da Silva teve que ficar anônimo antes de poder efetivamente sentir eu sou.

Até começar o novo estágio. Até que Saturno falasse na Estrada Iluminada. Até que a Estrela viesse a ser conhecida dentro da consciência: “Ele!” Nesse estágio, o místico proclama: “Deus vive em mim.” Nesse estágio, o grande prodígio é: Ele sou eu. O sujeito eu tornou-se a expressão de uma consciência mais vasta, de um organismo mais cósmico. O “Eu” passou a ser uma expressão d”Ele”. Nesse momento o “eu” tem seu nascimento como uma realidade orgânica, viva, e não meramente como sentimento-intuição de algum poder transcendente que tem de permanecer informe.

Eu O sou – e isso sou eu. O ser do indivíduo que era conhecido de si mesmo e dos outros como José da Silva está agora restabelecido, reincorporado em germe na compreensão “Eu O sou”. Algum dia, ainda remoto, a personalidade transfigurada será capaz de dizer, com Jesus: “Eu O sou”.

Tríptico Astrológico, D. R.

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