quarta-feira, 14 de maio de 2014

O PESO DO SIGNO DE TOURO (IV)


As fases de Vênus, G. Galilei. Fonte: Instituto Humanitas Unisinos.


O planeta Vênus

Ora "estrela matutina", ora "estrela vespertina", o fulgente paramento do planeta Vênus é um prelúdio ao Sol nascente ou um posfácio do pôr-do-sol.

Vênus brilha mais que qualquer outro astro, seu manto nebuloso branco-amarelado reflete a luz com muito mais eficácia que a superfície parda e poeirenta da Lua. Quase 80% da luz solar derramada sobre Vênus simplesmente rebate do topo das nuvens e é espargida de volta para o espaço (a Lua, em contraste, devolve apenas 8%).

Vênus chega a 38 milhões de quilômetros em sua passagem mais rente pela Terra – mais perto do que qualquer outro planeta. Mesmo quando Vênus e Terra se afastam ao máximo, quando estão apartados por mais de 240 milhões de quilômetros, Vênus preserva um brilho superlativo para os observadores terrestres.

Nenhuma das características superficiais de Vênus pode ser discernida visualmente devido à sua cobertura de nuvens. Assim, as mesmas nuvens que explicam a garrida visibilidade do planeta também atuam para velá-lo. De qualquer modo, a maior parte da face do planeta é constituída de vulcões, de todos os tipos, em planícies recobertas de lava.


Os gêmeos Terra e Vênus são bem diferentes

Se existem dois mundos que clamam por comparação são os planetas gêmeos Terra e Vênus, por serem os mais parecidos em tamanho e orbitarem o Sol a distâncias similares. As primeiras descobertas sobre Vênus feitas de longe – em especial, a detecção de sua atmosfera pelo astrônomo e poeta russo Mikhail Lomonosov em 1761 – insuflaram em toda parte fantasias de um mundo frondoso e vicejante com vida semelhante à terrestre.

Estudos recentes, no entanto, têm apenas exposto contrastes gritantes entre os dois planetas.

Hoje Vênus assa e se resseca sob um céu obscurante que bloqueia a luz mas aprisiona calor. Sua atmosfera consiste quase inteiramente (97%) de dióxido de carbono, o mais eficiente e pernicioso de todos os gases do efeito estufa, efeito que mantém a temperatura acima de 430 graus Celsius em todo o planeta – no hemisfério noturno, no hemisfério diurno e até nos pólos. O dióxido de carbono abundante recai sobre o terreno quente de Vênus com pressão noventa vezes maior que a da atmosfera da Terra, uma pressão atmosférica comparável à existente na água novecentos metros abaixo do nível do mar.


Paisagem de Vênus (Agência Espacial Europeia). Fonte: Diário de Notícias.


O planeta gira tão devagar que um único dia demora dois meses terrestres para avançar da alvorada ao ocaso. Cerca de trinta quilômetros acima da superfície começam as nuvens, em camadas de 25 quilômetros de espessura, sem uma única brecha em sua cobertura, impedindo o Sol de mostrar-se durante todo o curso do longo dia venusiano. Somente os comprimentos de onda vermelhos conseguem perpassar o dossel de nuvens.

As nuvens venusianas configuram-se em remoinhos sombrios, que se movem a cerca de 350 quilômetros por hora, circulando o planeta inteiro a cada quatro dias terrestres na forma de devastadores vendavais.

Ao contrário de todos os outros planetas, Vênus gira de leste para oeste, ainda que se mova junto com eles para o leste em torno do Sol. Os astrônomos atribuem o giro invertido a alguma colisão violenta que emborcou o planeta no início de sua história.

Muitos intrusos potenciais são vaporizados ao atravessarem a espessa atmosfera e nunca atingem o solo, de modo que só os objetos impactantes mais volumosos chegam intactos à superfície. Sombras brilhantes condizem com a aparência juvenil de um planeta que só recentemente (nos últimos 500 milhões de anos) foi recoberto por verdadeiras enchentes de lava, que encobriram ou taparam praticamente todos os vestígios (cerca de 85%) de seu passado remoto.



Ishtar

Lendas antigas celebraram a beleza do planeta Vênus declarando-o não apenas divino, mas feminil – talvez porque suas visitas geralmente duram significativos nove meses. Embora orbite o Sol em apenas 224 dias terrestres, o movimento orbital da Terra interfere no comportamento observado de Vênus. Visto da Terra em movimento, ele permanece em média 260 dias como estrela matutina ou vespertina, o que coincide com o período de gestação humana, entre 255 e 266 dias.

Os caldeus chamavam o planeta de Ishtar, a deusa do amor que ascende aos céus, enquanto para os sumérios semitas Vênus era Inanna, "a Dama das Defesas do Céu". A natureza dual (auroreal e crepuscular) de Vênus projeta-o para seus admiradores ora como virgem, ora como vamp.

Ishtar metamorfoseou-se em Afrodite, a encarnação grega do amor e da beleza, que se tornou Vênus para os romanos e foi reverenciada pelo historiador Plínio por disseminar o orvalho vital que excitava a sexualidade das criaturas terrestres.

O belo semblante de incontestável pureza fez de Vênus outrora a musa dos poetas, mas as novas odes a Vênus devem ser inspiradas agora por impressões bem informadas de sua beleza – uma beleza selvagem.

Os Planetas, D. S.

Alisson Batista

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